O psicólogo norte-americano James T. Sears, professor de um programa on line de mestrado e doutorado em educação da Penn State University (EUA), apresentou, na terça-feira, 7 de outubro, a palestra < “Psicologicamente, o bullying requer uma compreensão do indivíduo que o pratica e sua relação com seu alvo. Sociologicamente, as estruturas organizacionais, as dinâmicas interpessoais e o currículo das escolas (fatores que juntos constituem o ambiente escolar) promovem a heterossexualidade e frequentemente reforçam o heterossexismo”, ressaltou. Para estabelecer a relação “bullying-homofobia”, Sears analisou as funções psicológicas que permeiam um comportamento homofóbico, essenciais para a compreensão do bullying – a função socialmente expressiva, a defesa do ego e a homofobia internalizada (segundo a qual, o comportamento homofóbico de um indivíduo estaria diretamente relacionado a uma não aceitação de sua própria homossexualidade, o que faz este indivíduo reagir com violência contra pessoas LGBT. Este último é o conceito geralmente defendido pelos ativistas para explicar a violência homofóbica). James Sears também falou sobre os mitos em torno da questão, como dizer que garotas e pessoas adultas não cometem tal ato, ou que bullying é coisa de criança, que só acontece nas escolas urbanas e que o pior inimigo das vítimas são elas mesmas. “Um exemplo é quando dizem que uma menina que se veste como garoto e joga futebol mereceu ter sido agredida por não se comportar ou vestir-se como uma menina normal. O bullying reforça os papéis de gênero. A vítima normalmente exibe uma forma de comportamento não convencional, o que pode ser usado para criar um capital cultural para o bully (o agressor)”, analisou o pesquisador. Segundo ele, bullying. não é uma conduta individual anti-social, tem a ver com toda a sociedade e os conteúdos de gênero e sexualidade são relevantes. “Quem mais sofre são as pessoas que se apresentam como desviantes em termos de sexualidade”, afirmou. O pesquisador destacou que pesquisas feitas em diferentes países mostram o mesmo padrão e os mesmos resultados, como o estudo realizado no Brasil envolvendo 16.422 estudantes, 3,099 professores e 4,532 pais de alunos, no qual um em cada sete alunos afirmaram preferir não ter um colega de classe homossexual. A mesma pesquisa mostrou que os professores sustentaram posição parecida. O pesquisador também apontou o grafite (ou pichação) como forma de disseminar a homofobia na escola. “O bullying não deve ser entendido como algo necessariamente físico. O grafite reforça a idéia de que o lugar público (no caso, a escola) é um espaço heterossexual e que ninguém deve se comportar de maneira diferente em relação à sexualidade. Ao deixar que o grafite homofóbico permaneça em suas instalações, como nos banheiros masculino e feminino, a escola acaba por ensinar a heterossexualidade e por reforçar a heterodoxia sexual e de gênero. O grafite serve para demarcar um território de tolerância para a homofobia”, ressaltou Sears. Em sua análise, a aprovação social de um terceiro personagem – além da vítima e do agressor, existe também a audiência (o onlooker – ajuda a perpetuar tal comportamento. “O olhar do público e sua aprovação ao agressor servem para provar que o domínio existe. Em um estudo da Universidade de British Columbia, no Canadá, 80% dos 490 estudantes entrevistados afirmaram que os bullies (agressores) são populares e desfrutam de um status entre seus amigos”, citou o pesquisador. Outro estudo citado por ele, desta vez realizado pela National Mental Health Association (NMHA) dos Estados Unidos, dá conta de que 78% dos 760 jovens entrevistados disseram não aprovar expressões anti-gays, mas 5% destes afirmaram que não defenderiam outros jovens alvos do bullying. Sears falou também do papel do educador. “O staff escolar geralmente não leva o problema do bullying muito a sério. Talvez os professores até se dêem conta da situação, mas não têm ferramentas para responder a ela”, disse. O pesquisador também fez o cruzamento entre bullying, raça e gênero. “Os jovens LGBT não brancos são mais frequentemente vitimizados do que os brancos. Se um jovem é negro e gay, ele vai preferir sofrer discriminação por ser negro, não por ser taxado de gay, pois uma agressão homofóbica o expõe como uma minoria, e isto é problemático para este indivíduo em termos de pertencimento a uma determinada comunidade. Ele acaba então optando por ser negro do que ser negro e gay, ou por ser gorda a ser lésbica e gorda”, explicou. Em relação às identidades de gênero, Sears mostrou que os/as jovens transexuais são os/as mais vulneráveis ao bullying. “Os/as jovens transgêneros sofrem agressão física em uma proporção de um terço a mais que lésbicas e gays e 90% dos/as jovens identificados/as como transgêneros/as se sentem inseguros/as em suas escolas”, relatou. O pesquisador enumerou algumas conseqüências de tais atos para esses/as jovens, como o estresse pós-traumático. Segundo ele, a maior ocorrência deste distúrbio se dá entre aqueles/as jovens que, à época de sofrer bullying nas escolas, não tinham ainda assumido sua orientação sexual. O pesquisador apresentou ainda uma análise comparativa de políticas governamentais e educacionais relativas à segurança nas escolas para a juventude LGBT. “Políticas que explicitamente proíbam o bullying baseado na orientação sexual ou na identidade de gênero são tão importantes quanto as práticas pedagógicas e materiais escolares que colocam em questão a heterodoxia sexual e de gênero”, finalizou. James Sears é autor de dezenas de livros, entre eles Teaching and Thinking About Curriculum: Critical Inquiries (1990, reeditado 2001, EIP Press), Growing up Gay in the South: Race, Gender, and Journeys of the Spirit (1991, New York: Haworth Press), Sexuality and the Curriculum: The Politics and Practices of Sexuality Education (1992, New York: Teachers College Press), When Best Doesn’t Equal Good: Educational Reform and Teacher Recruitment, A Longitudinal Study (1994, New York: Teachers College Press), Bound by Diversity (1994, Columbia, SC: Sebastian Press) e Overcoming Heterosexism and Homophobia: Strategies that Work (1997, New York: Columbia University Press). <