CLAM – ES

Hilvanando sexualidades

Batizado de Diadorim por seus fundadores, em homenagem à personagem de Guimarães Rosa – a mulher que se veste de homem em Grande Sertão Veredas – aconteceu em Salvador de Bahia, de 28 ao 31 de julho, o I Seminário Enlaçando Sexualidades, promovido pelo Núcleo de Gênero e Sexualidade da Universidade Estadual da Bahia (UNEB). Para a comissão organizadora do evento, “Enlaçar não tem por propósito a defesa dos semelhantes e sim o que se constitui no ato do enlace. É o desejo de se tecer com experimento e, em cada fio do laço, traçar o que se difere frente às percepções de cores e dos choques do fiar, quando o movimento ocorre no plano avesso dos enunciados fixos”.

“Nos perguntamos qual é o fenômeno mais problemático de se lidar nas escolas. A resposta é a sexualidade. Por isso, convidamos educadores e pessoas dos movimentos sociais para que relatassem suas experiências e os docentes pudessem ter um treinamento em sexualidade. E na busca por enlaçar soluções para as problemáticas de gênero, raça, sexualidade e classe, o papel dos movimentos sociais é fundamental, mais ainda em se tratando de um estado como a Bahia”, afirmou a antropóloga Suely Messeder, coordenadora do evento e professora da UNEB, que lançou o livro Ser ou não ser: uma questão para pegar a masculinidade (Editora UNEB).

O evento, realizado em parceria com o Instituto Anísio Teixeira (IAT) e a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), reuniu 189 estudantes e docentes de diferentes regiões do país, que participaram dos diversos Grupos de Trabalho e/ou como ouvintes. Participaram também, como palestrantes, sociólogos, antropólogos, críticos literários, demógrafos e cientistas políticos do Brasil, Argentina, Colômbia, México, Moçambique e Espanha.

Para Penildon Silva, diretor geral do IAT, “os educadores devem ser capazes de lidar com a diversidade humana, em suas mais variadas representações, pois é na escola que muitos pré-conceitos são reproduzidos”. Estas palavras fizeram eco entre a platéia que assistiu à mesa de abertura, complementadas pela declaração de Lourisvaldo Valentim, reitor da UNEB: “É importante que a nossa universidade traga para o debate assuntos que ainda hoje são considerados verdadeiros tabus pela sociedade, como a questão dos direitos sexuais. A realização desse seminário é muito oportuna porque, através da difusão do conhecimento científico e das atividades de extensão realizadas pela comunidade acadêmica, possamos erradicar preconceitos sociais históricos em favor da liberdade e do respeito aos direitos humanos”.

O antropólogo Osmundo Pinho, professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e especialista em estudos de gênero, raça e sexualidade, falou como a “institucionalização do Seminário terá um impacto muito positivo tanto entre alunos de diversas universidades do Estado, que pensam e interpretam a realidade social de forma interseccional, quanto no sentido de formular políticas públicas que articulem os diversos marcadores de diferença”.

Assim, o Seminário convidou a pensar a pluralidade relacional das feminilidades e masculinidades, apropriando-se de uma agenda de discussão, de questionamentos de epistemologias e metodologias comprometidas com modelos tradicionais de ciência, de convocar linguagens cujos temas evidenciem noções de movimento e transformação, como produção de subjetividades, sexualidades, visões contemporâneas nas concepções de masculino e feminino e críticas a modelos dualistas.

Tendo como objetivo principal reunir trabalhos que possam enlaçar a sexualidade humana em suas diversas expressões de conhecimento, as sessões do Seminário giraram em torno das temáticas da saúde, reprodução e direitos sexuais; migração e turismo; literatura, comunicação e mídia; raça e etnicidade; identidades sexuais e de gênero; e movimentos sociais e políticas públicas.

Além da comunidade acadêmica, o enlace se estendeu a lideranças comunitárias e representantes dos movimentos sociais.

O Nugsex- Diadorim apresentou, no marco do evento, o projeto intitulado “Um caminho para construir a cartografia da sexualidade das jovens adolescentes”, uma pesquisa-ação sobre as representações e práticas da sexualidade, mediante o teatro do oprimido no bairro da Boca do Rio, na cidade de Salvador, feito com quinze adolescentes negras, dos setores populares, estudantes da rede pública de ensino, na faixa etária de 12 a 15 anos, o qual procura entender as formas de opressão dessas adolescentes tendo como categorias de análise o enlaçamento de classe, raça, gênero e sexualidades.

“O Seminário chamou a atenção para a necessidade de incentivar espaços de interlocução entre os movimentos sociais e a academia, visando criar uma teoria radical sobre o sexo, parafraseando Gayle Rubin, para poder identificar, descrever, explicar e denunciar a injustiça erótica e a opressão social”, afirmou Suely Messeder.

Além do IAT e o SEI, o Enlaçando Sexualidades teve co-realização da Associação Brasileira de Magistrados e Promotores de Justiça da Infância e Juventude (ABMP), e contou com o apóio do Governo de Estado, da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), da Secretaria Municipal da Educação e Cultura (Smec) e da Editora Garamond.

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