CLAM – Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos

Diversidade como valor

Pesquisa da UNESCO sobre juventude e sexualidade realizada com 16.422 estudantes, 3.099 professores e 4.532 pais de alunos de escolas públicas e privadas em 12 capitais brasileiras, em 2005, mostrou que um em cada quatro alunos não gostaria de ter um colega homossexual em sala de aula – 41% dos meninos afirmaram não tolerar colegas gays ou lésbicas. A homofobia também existe entre os pais. Em Fortaleza (CE), 48% mencionaram que não gostariam que seus filhos estudassem com homossexuais, em Porto Alegre (RS) este índice foi de 22%. Os dados da pesquisa mostraram também que 2,3% dos professores não gostariam de ter alunos homossexuais. A pesquisa mostrou também que a gravidez em adolescentes ainda é tabu no país – dos estudantes de 10 a 24 anos ouvidos, entre 2,2% e 4,7% afirmaram que não gostariam de ter como colegas de classe mães solteiras – e que muitas vezes os professores não apenas silenciam, mas colaboram ativamente na reprodução da discriminação.

“Na maioria dos casos, quando os professores se deparam com ‘problemas’ como um aluno homossexual ou uma aluna grávida – é assim que muitos vêem –, eles logo encaminham estes estudantes para o psicólogo da escola. O grande desafio é fazer os professores compreenderem que eles devem lidar com essas questões sim. Eles têm o compromisso de formar um cidadão, portanto devem se comprometer com esses temas”, analisa a antropóloga Fabíola Rohden (CLAM/IMS), coordenadora do curso Gênero e Diversidade na Escola, curso semi-presencial de formação de educadores/as nas temáticas de gênero, sexualidade, diversidade sexual, gravidez na adolescência, igualdade étnico-racial e participação juvenil.

Em 2006, o projeto foi realizado em seis municípios de diferentes regiões do país – Niterói e Nova Iguaçu (RJ), Salvador (BA), Maringá (PR), Porto Velho (RO) e Dourados (MS) -, em uma parceria do CLAM (responsável pelo conteúdo do curso e treinamento dos professores) com o governo federal e o British Council. Agora, em 2009, o curso será realizado em 15 cidades do Estado do Rio de Janeiro, em parceria com as Secretaria de Estado de Educação. Tendo 110 tutores – mestrandos e doutorandos que serão os “professores online” – o curso espera contar com a participação de 3 mil profissionais da educação das redes estadual e municipal do Estado.

“A idéia é sensibilizar esses professores em gênero, sexualidade e raça/etnia e ampliar sua compreensão sobre os processos de preconceito existentes na sociedade, como a homofobia, o racismo e o sexismo. Pretendemos ir além do paradigma da tolerância, mostrando como a escola pode desconstruir estereótipos e preconceitos. Para isso, nosso método é discutir como o preconceito tem feito pessoas sofrerem dentro da escola. O curso é um convite ao debate e à reflexão”, avalia Fabíola Rohden.

O curso foi aplicado no Chile em 2007, em parceria com o Centro de Estudos para o Desenvolvimento da Mulher, oferecido a alunos/as de Pedagogia da Universidade Arturo Prat. Este ano, além da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), 19 universidades vão aplicá-lo em diferentes regiões.

A educadora Bel Santos, coordenadora de conteúdo do curso, lembra que “ao mesmo tempo em que a escola recebe as mazelas da sociedade – como a violência, por exemplo – ela também é um espaço que tem o potencial para construir outro cenário. Os professores precisam entender que ter diversidade na escola não é um problema, e sim, um valor”, diz ela.


Para ela, não será apenas a inclusão das palavras gay, lésbica, negro e mulher nos livros didáticos que vai garantir a transversalidade de temas na escola. A educadora alerta para algo muito comum nas escolas. “Muitas vezes, perde-se o foco da discussão e a responsabilidade da agressão e da discriminação recai sobre o discriminado. Já ouvi por parte de alunos e professores que fulano não foi agredido por ser gay, mas sim por andar rebolando. O foco sai sobre a homofobia e recai sobre o comportamento do discriminado”, afirma.


Ela paroblematiza o fato de alguns professores não considerarem as brincadeiras como manifestações de agressão, naturalizando e banalizando expressões de preconceito. “Dizer para um aluno ‘não liga para isso’ é muito pouco para quem está sendo chamado de ‘mariquinhas'”, ressalta. 


Na quarta-feira, 11 de março, o curso será oficialmente lançado no Rio de Janeiro, através de uma cerimônia na UERJ com a presença do reitor da universidade, prof. Ricardo Vieiralves, da Secretária de Educação do Estado, Teresa Porto, e as Secretárias de Educação dos municípios em que o curso será ministrado.

Além disso, serão lançadas as publicações “Os desafios da transversalidade em uma experiência de formação on-line: Curso Gênero e Diversidade na Escola”, organizado por Fabíola Rohden, Leila Araújo e Andreia Barreto, e “Gênero e Diversidade na Escola: formação de professores em gênero, sexualidade, orientação sexual e relações étnico-raciais”, organizado por Maria Elisabete Pereira, Fabíola Rohden, Maria Elisa Brandt, Leila Araújo, Graça Ohana, Andreia Barreto e Roberta Kacowicz.

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