CLAM – Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos

Pesquisa mapeia sexologia no Brasil

Os resultados da pesquisa “Sexualidade, Ciência e Profissão no Brasil” já estão disponíveis para download. O lançamento aconteceu no último dia 13, em mesa redonda coordenada pelo antropólogo Sergio Carrara e que reuniu as pesquisadoras Jane Russo (IMS/UERJ) e Fabíola Rohden (UFRGS), coordenadoras da pesquisa no Brasil.

Os resultados do relatório referente ao Brasil, que teve a participação dos pesquisadores Igor Torres, Livi Faro e Marina Nucci, mostram de que maneira o campo profissional da Sexologia se estrutura no país. O mapeamento do campo foi realizado a partir de análise de publicações, investigações em eventos e congressos e entrevistas com os principais profissionais da área. O relatório brasileiro faz parte da pesquisa “Sexualidade, Ciência e Profissão na América Latina”, que é fruto de uma parceria entre o CLAM/IMS/UERJ e o Inserm (Instituto Nacional de Saúde e da Pesquisa Médica), da França. O relatório brasileiro é o primeiro de uma série de resultados de países latino-americanos, entre eles Argentina, Chile, Colômbia, México e Peru.

Durante a mesa redonda foi discutida a chamada “medicalização da sexualidade”. No Brasil, a institucionalização da sexologia aconteceu na década de 80, época da criação do Núcleo de Sexologia da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro (SGORJ). “A sexologia surge a partir da medicina, mais especificamente da ginecologia obstetrícia, mas já começa sendo um campo multiprofissional, que conta com médicos, psicólogos, educadores”, explicou Jane Russo.

A partir dos anos 90, o campo da sexologia é deslocado para a urologia, com o surgimento da medicina sexual, que tem foco na sexualidade masculina e em disfunções sexuais de homens. “Se antes o foco da sexologia eram as mulheres, com a emergência da medicina sexual o foco passa a ser o público masculino e a sexualidade passa a ser concebida a partir de uma perspectiva totalmente biomédica”, relatou a pesquisadora.

Atualmente, a medicina sexual conta com amplo financiamento por parte de laboratórios farmacêuticos, que patrocinam congressos e seminários promovidos pela Abeis (Associação Brasileira para o Estudo da Inadequação Sexual). “A medicina sexual parece estar ocupando um espaço antes ocupado por teorias e visões psicológicas do ser humano, das quais a sexologia fazia parte”, completou.



“A medicina sexual é muito profissionalizada e institucionalizada. Ela caminha lado a lado com a medicalização da sexualidade. Desde o lançamento do Viagra pelo laboratório Pfizer, em 1998, nós assistimos a uma nova era no processo de medicalização da sexualidade masculina”, afirmou a pesquisadora Fabíola Rohden (UFRGS), que, ao lado de Jane Russo, coordenou a equipe brasileira.



Outro assunto discutido durante o encontro foi a relação entre a medicalização e farmacologização da sexualidade e os direitos sexuais. Apresentada na fala da pesquisadora Fabíola Rohden, a New View Campaign é um exemplo de organização voltada para a garantia dos direitos sexuais. Criada em 2000 pela sexóloga canadense Leonore Tiefer, a organização busca estabelecer uma crítica ao modelo médico e às indústrias que promovem drogas voltadas à sexualidade feminina. “Esse movimento se opõe à noção de uma ‘sexualidade feminina normal’, afirmando que a sexualidade da mulher é mais complexa. A perspectiva é interessante, no entanto, precisamos ficar atentos a uma reificação dos gêneros”, alertou Fabíola Rohden.



O próximo passo da pesquisa latino-americana é realizar uma análise comparativa entre os campos da sexologia nos países pesquisados. O relatório com os dados recolhidos na Argentina será o próximo a ser divulgado, ainda sem data definida.



Para ter acesso ao relatório brasileiro completo, clique aqui.