Perceber o idoso como ativo e provedor ao invés da visão clássica de que ele é um encargo social é o que trata a palestra “Provedores e militantes: Imagens de homens aposentados na família e na vida pública”, a ser apresentada pelo professor da USP e antropólogo Júlio Simões, no Seminário Relações Familiares, Sexualidade e Religião, no dia 5 de agosto, na UERJ. Ele retoma temas de seu doutorado sobre aposentados e pensionistas organizados em diferentes tipos de associações, que se engajaram num movimento em defesa da aposentadoria entre os anos 80 e 90 no Brasil.
O antropólogo percebeu que era necessário desconstruir a representação dos mais velhos como um encargo para a família e para a sociedade. Diz ele que “em linhas gerais, trata-se de mostrar que esses aposentados ainda eram arrimos de família, que a aposentadoria não os livrara da necessidade de assegurar o sustento de suas famílias. Pelo contrário, muitas vezes, aumentava-lhes a responsabilidade, pois tinham de lidar com as despesas pessoais crescentes, relacionadas principalmente ao cuidado com a saúde e com as despesas do lar, o que incluía ser solidário com os apuros das gerações mais jovens”.
Simões entrevistou organizadores e ativistas de associações de aposentados do estado de São Paulo, além de lideranças de outras capitais brasileiras, como Rio, Belo Horizonte e Salvador, quase todos “velhos jovens”, com idades entre 55 e 65 anos, majoritariamente ex-ativistas ou ex-lideranças sindicais de diferentes categorias e beneficiários do regime geral da previdência.
Em sua apresentação, Júlio irá oferecer uma análise do discurso político desses aposentados e “de que maneira eles procuraram se constituir como um coletivo específico e internamente solidário capaz de atuar na defesa de interesses e valores comuns, apesar das grandes diferenças e desigualdades existentes entre eles”, explica ele.
Segundo o pesquisador, os aposentados entrevistados deixaram claro que podiam estar um pouco debilitados pela idade, mas estavam com vigor e disposição suficientes para seguir enfrentando a luta pela subsistência. “Atualizavam à sua maneira uma imagem de ‘aposentados ativos’ ou ‘militantes’, em oposição aos estigmas da inatividade, passividade e decrepitude associados à velhice. Assim, faltando ao compromisso moral de conceder aposentadorias dignas, o Estado colabora para minar a solidariedade entre gerações na família. É crucial a percepção de que desmantelar programas sociais para os mais velhos significa liquidar a proteção social para as futuras gerações”, alerta Simões.