CLAM – Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos

Queremos uma nova Igreja, dizem católicas

Queremos uma nova Igreja!

Carta Aberta de Católicas ao Papa Francisco

Queremos saudá-lo, Papa Francisco, como mulheres que, desde a perspectiva da fé, temos a esperança de que profundas mudanças permitam à Igreja apresentar-se ao mundo como essa luz de que fala a Encílica Lumen Fidei, sua primeira carta à comunidade católica.

Esperamos, em primeiro lugar, que a escolha do nome Francisco signifique um programa de renovação das próprias estruturas da Igreja, assim como da sua doutrina, na fidelidade à figura desse homem de Assis que abalou o mundo com sua radicalidade.

Mulheres católicas que somos, queremos viver uma fé que liberte e não condene, ameace ou inspire medo. Respeitamos e admiramos os gestos do novo Papa de simplicidade e acolhimento das pessoas. Por isso, esperávamos que trouxesse à Igreja outros ares, como o fez João XXIII. Que abençoasse todas as famílias, hétero ou homossexuais; que compreendesse que uma experiência positiva da maternidade ou da paternidade não resulta da possibilidade biológica de gerar, mas da capacidade de amar, respeitar e educar uma criança. Foi por isso que, com tristeza, lemos sua primeira carta dirigida ao povo católico reafirmando a união heterossexual como a única expressão do amor verdadeiro. Quando a Igreja vai se abrir à realidade da diversidade das formas de amor e de expressão da sexualidade humana? Quando compreenderá que existe um imenso universo de possibilidades de realizar-se como ser humano?

Queremos uma nova Igreja. Uma Igreja na qual as mulheres sejam reconhecidas por si mesmas, em seu direito à autonomia na condução de suas vidas. Que sejam reconhecidas como animadoras de comunidades, com pleno acesso ao exercício do sacerdócio e às instâncias decisórias da instituição. Uma Igreja que valorize as comunidades religiosas femininas que evangelicamente se inseriram nos setores mais pobres de nosso país. E que elas sejam respeitadas, admiradas por sua audácia e generosidade. Queremos uma Igreja na qual o celibato não seja uma obrigação e a direção das comunidades seja decisão das e dos fiéis.

 

Equipe de Católicas pelo Direito de Decidir