CLAM – Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos

Gênero e preconceitos

A historiadora Cristina Scheibe Wolff, uma das coordenadoras do Seminário Internacional Fazendo Gênero, considera significativos os avanços alcançados no país no que diz respeito à articulação gênero/preconceito, tema central da 7ª edição do evento, que acontece entre os dias 28 e 30 de agosto, na UFSC, em Florianópolis. “Avançamos muito, especialmente em termos da legislação e portanto do reconhecimento legal dos preconceitos ligados ao gênero”, reconhece ela.

Entretanto, ela lamenta ainda perceber exemplos de preconceitos sofridos pelas mulheres, como no mercado de trabalho. “A mulheres têm ainda renda média bastante inferior aos homens e ocupam muito menos cargos de direção”, afirma. Chamar a atenção para o fato foi, segundo ela, um dos motivos que nortearam a organização do evento – coordenado também pelas professoras Marlene de Fáveri e Tânia Regina Oliveira Ramos, da UFSC, – a escolherem o tema Gênero e Preconceitos.

“Nossa sociedade precisa ainda transformar-se muito em relação às práticas, à distribuição da renda, da educação, das decisões”, diz. Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo, Cristina atualmente é professora adjunta da Universidade Federal de Santa Catarina e Membro de corpo editorial da Revista Estudos Feministas. Nesta entrevista, ela fala das expectativas para a 7ª edição do evento, que este ano reunirá 1600 pesquisadores. O evento é promovido pela Universidade Federal de Santa Catarina e pela Universidade do Estado de Santa Catarina.

Em sua avaliação, o que representa, dentro do cenário acadêmico e também dos movimentos sociais, um evento como o seminário Fazendo Gênero?

O Seminário Fazendo Gênero começou com uma reunião de pesquisadoras(es) que estudavam mulheres, gênero e sexualidades na Universidade Federal de Santa Catarina. A partir daí, o seminário foi tomando vulto e incorporando convidadas(os) e participantes de outras partes do país, bem como da América Latina e de outros países. Creio que hoje o Fazendo Gênero se tornou uma referência para os estudos de gênero no país, pois é um evento multi e inter disciplinar e oferece uma oportunidade de debate e de discussão dos temas referentes ao gênero, mulheres, feminismo e sexualidades, tanto para o espaço acadêmico como para os próprios movimentos sociais, cujos atores têm sido chamados a participar do evento. Para além do encontro, temos sempre procurado realizar publicações a partir dos trabalhos apresentados, que possibilitam um alcance maior das discussões e seu uso em cursos e pesquisas. Este ano, além dos livros que deverão sair com trabalhos selecionados, faremos um CD com todos os trabalhos que foram enviados previamente e estamos também tentando viabilizar a transmissão via Internet dos principais debates que ocorrerão. Foram inscritos quase 1500 trabalhos nos Simpósios Temáticos, e 160 pôsteres.

O tema deste ano será gênero e preconceitos. Os Encontros anteriores articularam a categoria gênero com temas como cultura, política, sexualidade e os saberes. Por que privilegiar a temática preconceito este ano?

O evento deste ano parte das questões levantadas nos eventos anteriores e coloca em foco o preconceito. A categoria gênero é uma categoria relacional. Isso quer dizer, por um lado, que os gêneros se definem na relação com o outro, mas por outro lado, sendo um aspecto das relações sociais de poder e de subjetivação, o gênero se articula com outros tipos de relações sociais – geração, raça, etnia, classe, profissão, sexualidade – de maneiras cada vez mais diversas. Os preconceitos acompanham o gênero de perto. As identificações de gênero são também representações muito fortes que implicam comportamentos, sentimentos, interdições; e que ajudam a moldar as vidas de homens e mulheres. A superação dos preconceitos pressupõe reconhecimento e entendimento para que a ação política coletiva e individual seja possível.

Em relação aos preconceitos de gênero, quais os avanços que precisamos obter na sociedade contemporânea?

Considero que são muito importantes e significativos os avanços nessa área, especialmente em termos da legislação e, portanto, do reconhecimento legal dos preconceitos ligados ao gênero. Porém, quando analisamos dados estatísticos ou estudos de casos, podemos perceber o quanto ainda em nossa sociedade as mulheres têm ainda renda média bastante inferior aos homens, ocupam muito menos cargos de direção e sofrem violências físicas e morais por serem mulheres. Quando se articula a categoria gênero com outras como raça/etnia, por exemplo, ou orientação sexual e geração, os exemplos de preconceito, e as conseqüências destes preconceitos para a vida das pessoas que estão nos pólos mais estigmatizados destas relações, são verdadeiros desastres. Esta nossa sociedade precisa ainda transformar-se muito em relação às práticas, à distribuição da renda, da educação, das decisões.

Como a sra. avalia o campo dos estudos de gênero e dos estudos feministas no país na atualidade? Que contribuições um Encontro como Fazendo Gênero pode oferecer ao campo?

O campo dos estudos feministas e de gênero no país está em franca expansão, como demonstra o próprio Seminário Fazendo Gênero 7. No seminário Fazendo Gênero 6, bem como nos dois ou três encontros anteriores, tivemos entre 450 e 600 trabalhos inscritos para apresentação. Desta vez, 1600 pesquisadores inscreveram seus trabalhos no evento, o que é um crescimento espantoso e demonstra a vitalidade deste campo de estudos multidisciplinar. Além disso, creio que o campo também pode ser avaliado pela produção bibliográfica que tem sido intensa e de grande qualidade, como atestam as revistas de estudos de gênero e feministas, como a Revista Estudos Feministas, a Cadernos Pagu, a Revista Gênero, entre outras, que têm recebido excelentes avaliações na CAPES. A contribuição do Fazendo Gênero tem sido a de propiciar um espaço de encontro, de debates, de trocas e de publicações para muitas (os) pesquisadoras (es) que trabalham em suas disciplinas e em suas universidades ou organizações variadas. Neste encontro, mantendo o princípio da interdisciplinaridade, propusemos pela primeira vez o formato de Simpósios Temáticos, organizados por pesquisadoras de instituições diferentes e que ao longo do encontro discutirão temas específicos.

Que outros temas serão debatidos?

As mesas redondas enfocarão o preconceito nas suas diversas intersecções com o gênero: as ações afirmativas, o preconceito racial, as gerações, a mídia, o erotismo e sexualidade, a questão da pobreza, a ciência, a violência, a linguagem e representações. Haverá também uma mesa sobre gênero e ditadura na América Latina, uma sobre identidades pós-coloniais e um painel sobre o feminismo e preconceito no mundo. Além dessas atividades maiores, teremos 62 Simpósios temáticos que enfocam questões muito variadas e que passam por especialidades e disciplinas muito diferentes. Convido a todos que visitem o site www.fazendogenero7.ufsc.br, no qual encontrarão a programação completa, a lista de Simpósios Temáticos e os procedimentos para inscrição. Qualquer outra dúvida pode ser dirigida para o e-mail fgenero@cfh.ufsc.br.