CLAM – Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos

Em nome de Deus?

A professora Regina Soares Jurkewicz foi demitida do Instituto Teológico, da Diocese de Santo André (Grande São Paulo), dois dias após lançar o livro “Desvelando a política do silêncio: abuso sexual de mulheres por padres no Brasil”, no qual divulga os resultados de uma pesquisa em que denuncia o abuso sexual de mulheres praticado por padres. A demissão está mobilizando instituições feministas e de direitos humanos, como o CLAM.



A pesquisa, coordenada por Regina, integrante da ONG Católicas pelo Direito de Decidir (CDD), concluiu que a Igreja Católica brasileira encobre os crimes sexuais cometidos por padres contra mulheres, protege os agressores e silencia as vítimas.



Quem acessar o site do CDD pode manifestar sua indignação e saber mais sobre o conteúdo do livro.



O último editorial do site, intitulado “Mais uma vez a política do silêncio”, demonstra o repúdio da organização à demissão da professora do Instituto. Diz o texto:



“Foi com indignação que recebemos, no dia 30 de junho, a notícia da demissão de nossa companheira Regina do Instituto de Teologia da Diocese de Santo André, no qual é professora há 8 anos. Durante todos esses anos, ela lecionou nesse mesmo Instituto, sem que a direção se desse conta de que ‘não concordava nem aceitava’ seus pensamentos. Foi somente no dia imediato após a divulgação da sua pesquisa na revista Época de 20 de junho de 2005 que essa ‘discordância’ de pensamento se explicitou.



Esta atitude da direção do Instituto e do Bispo da Diocese, evidencia a incapacidade da hierarquia católica para abrir-se ao diálogo. É mais fácil afastar aqueles/as que pensam diferente do poder instituído e têm a coragem de falar, do que enfrentar as contradições internas que vêm minando a credibilidade da Igreja.



Sem dúvida, não é assim a Igreja que Jesus Cristo sonhou e pela qual deu sua vida. O ato de demissão da Profa. Regina é ilegítimo, calcado exclusivamente no medo ao debate, que faz com que as autoridades eclesiásticas recorram ao exercício da censura e às práticas autoritárias sem fundamento plausível.



Lamentamos e nos indignamos com esta decisão arbitrária. Mais uma vez, a opção foi colocar em prática a política do silêncio, que inclui a tentativa de silenciar quem quer contribuir para que a justiça e a verdade vençam o obscurantismo e o medo!”



Segundo informações, outros docentes já foram demitidos de faculdades católicas por se expressarem de forma favorável sobre temas controversos como o aborto.