CLAM – Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos

Políticas Públicas e Sentimentos

A revista Sexualidad, Salud y Sociedad – Revista Latinoamericana, publicação periódica do CLAM, lança dossiê “Um Leque de Temáticas, um Arco de Sentimentos: subjetividade, emoções e políticas públicas”, organizado por Maria Claudia Coelho (ICS/UERJ) e Iara Beleli (PAGU/Unicamp).

O dossiê explora os limites e possibilidades do estudo socioantropológico das emoções nas políticas de governo e nos movimentos sociais. Abarca, assim, tanto políticas de controle e administração quanto de bem-estar social, como no caso do policiamento e o do desenvolvimento e em diversas instituições, bem como no universo do trabalho. Explora também a interseção entre emoções, gênero e sexualidade e examina dilemas teóricos do estudo das emoções.

Além da apresentação a cargo das organizadoras, os sete artigos contemplam áreas diversas das políticas públicas, cuja gestão provoca uma multiplicidade de sentimentos, como a vergonha, a humilhação, o medo, a confiança, o ódio e a compaixão.

     No artigo “Os pesquisadores e o turbilhão: políticas de avaliação científica e gramáticas emocionais”, Maria Claudia Coelho e Helena Bomeny analisam os processos de produção de conhecimento científico e a subjetividade dos pesquisadores. As autoras se utilizam do arcabouço conceitual de Pierre Bourdieu, em particular seu conceito de histerese, para discutir os impactos subjetivos das alterações ocorridas nas políticas de avaliação científica a partir dos anos 1990, com ênfase no imperativo para a competição.

     No seu artigo “Políticas de saúde, confiança e afeto em narrativas de parto”, Claudia Rezende, aborda um grupo a princípio estranho ao universo de abrangência do Programa de Humanização do Pré-Natal e do Nascimento (PHPN): as gestantes usuárias do sistema privado de saúde. A autora discute como a linguagem dos “direitos” é substituída por uma linguagem de afetos, entre os quais o “respeito”, o “carinho” e a “confiança”.

     “O outro cultural: migrantes, refugiadas e a vítima da violência de gênero”, de Jullyane Ribeiro, entrelaça dois problemas teóricos: a dimensão micropolítica das emoções e a concepção da “vítima” como uma formação contemporânea da subjetividade, tomando como objeto a violência de gênero, abordada pela perspectiva de um projeto de conscientização de mulheres migrantes e refugiadas, desenvolvido em bairros da periferia da cidade de São Paulo.

     No artigo “Antifeminismos: os efeitos dos discursos de ódio”, Iara Beleli, analisa as políticas de desenvolvimento promovidas por Damares Alves, Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022). Beleli argumenta como, em oposição às “mulheres de bem”, o termo “feminista” se tornou, nesses discursos, uma categoria acusatória, associada a termos pejorativos como “porcas” e “putas”.

     No seu artigo “Medo e tráfico de pessoas”, Adriana Piscitelli analisa as políticas de combate ao tráfico de pessoas sob uma perspectiva comparativa entre diversos países. O medo é o principal sentimento abordado na análise, discutido à luz de um paradoxo: as pessoas supostamente “vítimas” do tráfico de pessoas sentem medo não daqueles que as traficam, mas sim daqueles (a polícia, em particular) que atuam para tirá-las desta condição de “traficadas” por meio de estratégias violentas.

     Outra situação paradoxal é explorada por Cecilia Luís, no seu artigo “Imigrantes Indocumentados em Lisboa: emoções em tempos de imobilidade”. A autora relata sua pesquisa com imigrantes de diversas nacionalidades cujos vínculos empregatícios envolvem o pagamento de impostos sem, contudo, obterem a documentação que lhes garante permanência no país. A situação de “indocumentação” gera uma rica e multifacetada gramática emocional, integrada pelo medo, a solidão, a indignação e a esperança.

     O dossiê é encerrado por Antónia Lima, quem entrelaça as teorias do cuidado e do estudo das emoções para compreender os impactos das políticas de austeridade adotadas em Portugal. No artigo “Cuidado, emoções e políticas públicas. Reflexões a partir do caso português”, aborda as redes de cuidado informais, criadas por família e vizinhanças, para prover as necessidades fundamentais de sobrevivência daqueles mais fortemente afetados pelas perdas salariais, os cortes de pensões e o desemprego.

Para acessar o dossiê na íntegra, visite a página da revista: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/SexualidadSaludySociedad

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