CLAM – Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos

A violência obstétrica no México

Roberto Castro Pérez (CRIM/UNAM) fala sobre suas pesquisas concernentes às práticas médicas e violências de gênero em entrevista à Claudia Mora (CLAM/IMS/UERJ)

            A Sexualidad, salud y sociedad – Revista Latinoamericana publicou em seu 38º número a entrevista com Roberto Castro Pérez, pesquisador do Centro Regional de Investigaciones Multidisciplinarias da Universidad Nacional Autónoma de México (CRIM/UNAM) realizada pela pesquisadora Claudia Mora (Centro Latino- americano em Sexualidade e Direitos Humanos – CLAM/IMS/UERJ).

           Em 2014, após mais de duas décadas de estudos sobre violência obstétrica, Roberto Castro recebeu o Prêmio Iberoamericano en Ciencias Sociales, outorgado pelo Instituto de Investigaciones Sociales de la UNAM. Nesta entrevista, concedida a Claudia Mora, o sociólogo apresenta algumas das principais questões que marcaram seu trabalho.

           Castro tem realizado estudos na área da saúde a partir da perspectiva da sociologia, influenciado por autores como Émile Durkheim e Pierre Bourdieu. O primeiro destes autores foi importante para ajudá-lo a perceber como se poderiam estudar as mais diversas questões, como o suicídio, a partir da perspectiva sociológica. Já o segundo autor foi especialmente relevante a partir do conceito de habitus, que Castro utiliza para pensar nos processos de formação dos médicos e profissionais da saúde, no que concerne às práticas, posturas, concepções, modos de pensamento e suas relações com as e os pacientes.

           Castro relata ter iniciado suas pesquisas no Instituto Nacional de Salud Pública em Cuernavaca, no México, onde foi questionado sob a perspectiva sociológica que empregava em suas pesquisas, haja vista o predomínio de uma abordagem biomédica. Ao migrar para o Centro Regional de Investigaciones Multidisciplinarias, na Universidad Nacional Autónoma de México, o fato de um  sociólogo privilegiar a área da saúde como eixo de suas pesquisas era visto como uma raridade. O entrevistado, entretanto, defende a integração destas duas áreas na busca de perspectivas mais complexas sobre a saúde e as práticas sociais que a englobam. Ele destaca a importância de concebermos as questões de saúde a partir de perspectivas interseccionais, que consideram o entrecruzamento de variáveis como classe, raça, gênero, idade, nacionalidade, bem como seus impactos nas vidas das pessoas.

            Na entrevista, Castro falou sobre os métodos de pesquisa que utiliza, como entrevistas de profundidade e observações em serviços de saúde. Ele refletiu sobre alguns desafios éticos que encontrou ao realizar suas pesquisas, como por exemplo, os conflitos éticos com os quais se deparou em um hospital lotado, diante das dificuldades em obter autorizações das parturientes para as assistentes de pesquisa acompanharem os partos. No entanto, há a possibilidade das pesquisas sobre violência obstétrica conscientizarem os profissionais da medicina, as pacientes e demais cidadãos sobre as violências sofridas pelas mulheres e, inclusive, alterar estes quadros. Mas, diante de uma situação como esta, como se posicionar? Assistir a um parto sem autorização, visando o avanço das pesquisas, ou deixar de assisti-lo e interromper o processo de produção de conhecimento que pode mudar a realidade? Tratam-se de questões complexas, nas quais os pesquisadores devem tomar cuidado e garantirem que suas ações não serão mais uma forma de violência contra as parturientes, que já se encontram em situações de vulnerabilidade.

            O entrevistado também destacacou que não há uma relação simples e direta entre os resultados das pesquisas acadêmicas e sua aplicação nas políticas públicas. Estudos sobre violência médica, obstétrica e de gênero são fundamentais, mas não significa que estes irão necessariamente orientar as políticas públicas.

           Castro reflete também sobre o impacto da Covid -19  nos  partos e atendimentos às gestantes. Ele apresenta algumas impressões sobre a violência, questionando a possibilidade de suspender limites, nuances e padrões de atendimento em períodos de exceção, como no momento da pandemia.

           Para saber mais sobre violência obstétrica, métodos de pesquisa, problemas éticos e conhecer melhor a trajetória intelectual de Castro, acesse aqui a entrevista na íntegra.