CLAM – Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos

Defesa de dissertação de mestrado sobre saúde reprodutiva

Defesa de dissertação de mestrado:

No dia 25/03/24, às 13:30 hs, Dandara Pimentel Freitas defenderá a dissertação de mestrado em Saúde Coletiva, intitulada “A gestão da saúde reprodutiva em uma Clínica da Família no município do Rio de Janeiro: práticas de saúde na fronteira entre cuidado e violências”. A dissertação foi orientada pela professora Claudia Mora e desenvolvida no Instituto de Medicina Social Hésio Cordeiro, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. A defesa ocorrerá no Auditório do IMS/UERJ, na sala nº 6012, 6º andar. Rua Francisco Xavier, 524, Maracanã, Rio de Janeiro.

Resumo da dissertação:

As práticas com atenção à saúde reprodutiva na Atenção Primária à Saúde estendem-se desde a oferta e prescrição de métodos contraceptivos ao seguimento pré-natal de risco habitual. Estas práticas são norteadas por protocolos, que objetivam sua normatização em direção às políticas. Estas, por sua vez, são engendradas por mecanismos de governança através de intervenções tecnocráticas que almejam a regulação da fecundidade e ensejam políticas populacionais. Neste sentido, buscamos compreender a gestão da saúde reprodutiva na Atenção Primária à Saúde, a partir da análise dos saberes, expectativas e representações em torno das práticas em questão, sob as perspectivas simbólico-interacionista e interseccional. Trata-se de um estudo etnográfico, realizado através de observação participante e entrevistas abertas a profissionais e usuárias de uma Clínica da Família situada em uma favela da zona norte do Rio de Janeiro. A entrada em campo trouxe à tona certo jogo de posicionalidades, em decorrência do duplo-papel exercido pela pesquisadora, também profissional de saúde. Por meio da observação de mediações e negociações nos guichês das equipes, desvelaram-se processos de estigmatização direcionados a mulheres negras, jovens e com “filhos demais”. A prescrição e manejo de meios e métodos contraceptivos contrapõe a retórica da “escolha livre e informada” ao paradigma da norma contraceptiva, enquanto responsabilização integral das mulheres pela gestão da fecundidade. O modo como as mulheres gerem a fecundidade, por sua vez, revelou-se contingencial e permeado por ambivalências e ausências. A laqueadura figurou enquanto objeto de desejo, metaforizado através do “Passaporte” enquanto documento que autoriza as mulheres à sua realização. Os LARC (long-acting reversible contraceptives), por sua vez, ensejam discursos pautados na autonomia, subsumidos, entretanto a reatualizações do paradigma controlista neomalthusiano, que baliza sua oferta diferencial a mulheres lidas como “vulneráveis”. A violência obstétrica emergiu enquanto categoria a partir da narrativa de uma das profissionais entrevistadas que, em interlocução com a narrativa de um parto violento por parte de uma das usuárias, apontou diferentes sentidos de agência, bem como a própria nomeação do que é violento enquanto processual. Por fim, práticas contra-hegemônicas de cuidado às mulheres, não centradas em sua fecundidade, surgiram a partir do “Grupo de Mulheres”, de cunho vivencial e com facilitação da narração das usuárias. Com base na entrevista à profissional facilitadora do grupo, impuseram-se questões ao ser mulher enquanto experiência unívoca e dissociada dos demais vetores de poder. A ausência de performances de sexualidades dissidentes dentre as usuárias foi um dado revelador de exclusões institucionais para além das intencionalidades profissionais, reiterando a vinculação, de cunho normativo, entre fecundidade, reprodução e “saúde da mulher”. O presente trabalho revelou, por fim, tensões entre escolha e norma, autonomia e coerções e cuidado e controle, através de práticas de saúde derivadas de mecanismos regulatórios da fecundidade, eufemizados pela linguagem de direitos na contemporaneidade. Estas técnicas têm lugar em uma matriz bio-necropolítica que autoriza e desautoriza maternidades, e, não obstante, dão lugar a agenciamentos por parte de usuárias e também profissionais, forjados em dinâmicas de poder que articulam raça, classe, gênero, território, geração e demais corporalidades.

Palavras-chave: Direitos sexuais e reprodutivos. Atenção primária à saúde. Relação profissional-paciente. Violência de gênero. Racismo.

Dandara possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Piauí (2017) e residência em Medicina de Família e Comunidade pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca – Fiocruz (2019). 

Atualmente é médica da estratégia de saúde da família no município do Rio de Janeiro.

Acesse, na íntegra, o vídeo da defesa da tese.