Acaba de ser publicado, no número especial da revista Ethos – Journal of the Society for Psichological Anthropology, o dossiê “Contested Parenting. Experts, Audiences, Selves” (Parentalidades contestadas: especialistas, públicos e eus), organizado por Heike Drotbohm e Konstanz N’Guessan. O dossiê é fruto de desdobramento de seminário sobre políticas da “boa parentalidade”, realizado na Universidade de Mainz, na Alemanha, em 2022.
O dossiê aborda o tema das parentalidades a partir do encontro entre três grupos de atores: 1) os próprios pais, que lidam com suas imaginações sobre a parentalidade, ao mesmo tempo em que enfrentam as expectativas e atribuições de papéis de “tipos ideais” de pessoa; 2) os especialistas — profissionais ou autodeclarados — que representam uma autoridade central sobre como observar, comentar e, se necessário, intervir; 3) os públicos, que incluem não apenas (outros) pais e especialistas, mas também sogros, vizinhos, as crianças, além de qualquer outro membro observador de uma comunidade imaginada que aparentemente observa e julga se a parentalidade está sendo realizada de maneira correta, boa e apropriada.
A coletânea é constituída por artigos que se baseiam em pesquisas empíricas em diferentes regiões do globo, que refletem sobre desigualdades de gênero, raça, classe, capazes de moldar as intervenções parentais, os objetivos das políticas públicas e as dimensões morais e emocionais do trabalho identitário dos pais.
Além da introdução do dossiê, de autoria das organizadoras Heike Drotbohm e Konstanze N’Guessan, compõem esse número especial os seguintes artigos: “What Exactly Is a Family Man? Performing and Precluding Respectable Fatherhood in Dominica”, de Adom Philogene Heron; “Making beautiful babies: Performative parenting, parental determinism, and personhood in Côte d’Ivoire”, de Konstanze N’Guessan; “Motherhood amidst reprimands and advice: Parenting and class in Rio de Janeiro”, de Laura Lowenkron e Camila Fernandes; “Contesting parenting expertise: Constructing good mothering and searching for dignity in Cameroonian Berlin”, de Pamela Feldman-Savelsberg; “Aid workers parenting in the field: Children-as-audience and the generational transmission of privilege in Senegal”, de Dinah Hannaford; “Help can harm. Unintended consequences of child protection and parenting support for Vietnamese immigrant families in Germany”, de Nga Thi Thanh Mai e Gabriel Scheidecker; “Disrupting the social by centering the self: Life coaching and the politics of marriage, motherhood, and adult sociability among Latinx and Latin American women”, de Ana Ramos-Zayas e “Contested parenting and affective economies. A commentary”, de Claudia Fonseca.
O artigo das professoras Laura Lowenkron (CLAM/IMS/UERJ e REMA) e Camila Fernandes (CLAM/IMS/UERJ e REMA) publicado no dossiê, intitulado “Motherhood amidst reprimands and advice: Parenting and class in Rio de Janeiro” (“Maternidades em meio a esporros e conselhos: parentalidade e classe no Rio de Janeiro”), aborda desigualdades nas formas de moralização das mulheres mães no Brasil contemporâneo. A análise foca em duas formas de comunicação: esporros e conselhos de especialistas direcionados às mães em dois contextos sociais distintos na cidade do Rio de Janeiro. Com base no trabalho de campo de Camila Fernandes em um complexo de favelas, o primeiro estudo de caso examina como mulheres pobres e racializadas são repreendidas por profissionais de creches públicas. Baseado na pesquisa etnográfica conduzida por Laura Lowenkron em um grupo de WhatsApp de pais de classe média, o segundo estudo foca nos conselhos de especialistas parentais que circularam no grupo durante a pandemia de Covid-19. Por meio da comparação entre esporros e conselhos, sugerem que atos de fala revelam como discursos de especialistas realizam modalidades de moralização que não apenas moldam as experiências de maternidade, mas também as diferenciam de acordo com atributos de classe, raça e território.
Acesse o dossiê completo.