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A sexualidade nas classificações psiquiátricas: um estudo sobre a medicalização da vida cotidiana

Coordenação: Jane Araújo Russo



A pesquisa visa a analisar a transformação verificada no campo psiquiátrico contemporâneo, com a paulatina hegemonia de uma interpretação biológica dos transtornos mentais. Essa transformação ocorreu nos anos 80, a partir da publicação da terceira versão do Diagnostic and Statistic Manual of Mental Disorders (DSM III) da American Psychiatric Association. É importante assinalar que a mudança na compreensão dos transtornos mentais – de uma visão psicológica para uma visão biológica – não é um fenômeno isolado, fazendo parte, na verdade, de uma espécie de “rebiologização” de temas e discussões antes circunscritos ao campo do embate político, como as diferenças de gênero ou de raça.



A mudança terminológica ocorrida com o lançamento do DSM III atinge de modo especial os transtornos/desvios relacionados à sexualidade e ao gênero. Um exame superficial das diferentes versões do manual traz à tona evidências de um aumento desmesurado no número desses transtornos. Além dessa transformação numérica, percebe-se que novos tipos de transtorno/desvio passam a fazer parte do repertório de diagnósticos psiquiátricos. Pretende-se examinar tais questões no bojo das transformações mais amplas sofridas pela ideologia psiquiátrica contemporânea, tendo em vista o processo de medicalização de quadros antes interpretados psicologicamente e o modo como essa medicalização incide especificamente sobre a sexualidade.

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