CLAM – Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos

Educação inovadora

Durante os días 10 e 11 de abril acontece em Santiago do Chile o Seminario “Género y Sexualidad en el ambiente virtual de aprendizaje”, uma instância de diálogo e oportunidade para troca de experiências entre a equipe chilena que está trabalhando na área e a equipe de especialistas do CLAM, que irão expôr a exitosa experiencia do projeto-piloto já implementado no Brasil.

Teresa Valdés, pesquisadora do Centro de Estudios para el Desarrollo de la Mujer (CEDEM) e organizadora do seminário, e Fabíola Rohden, coordenadora acadêmica da equipe do CLAM responsável pelo projeto de Ensino a Distância (EAD) “Gênero e Diversidade na Escola” desenvolvido no Brasil, relatam as experiências já implementadas em ambos os países e expõem as expectativas em torno da implementação do projeto tanto no Chile como no restante da América Latina.

Como é e por que qué nasceu esse projeto? Quem são seus criadores?

Teresa – É um projeto que nasceu no Brasil, a partir do Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM), cujo objetivo é estimular e avançar, tanto na produção do conhecimento e na formação de especialistas e profissionais, como na formulação de políticas públicas que tenham uma perspectiva de sexualidade e direitos humanos.

O governo brasileiro – através das Secretarias Especiais de Políticas para as Mulheres e de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e do Ministério da Educação – solicitou ao CLAM que desenvolvesse um projeto-piloto para satisfazer a necessidade de formar profesores nos temas de gênero, sexualidade e diversidade, que nos dias de hoje se revelam como urgentes.

A proposta foi implementada com êxito em seis cidades do Brasil. A partir dessa experiência, o CLAM confirmou o interesse de implementar algo similar em outros países da região.

Qual a importância de um projeto de gênero para a sociedade?

Teresa – No Chile há um esforço e, em certa medida, uma conjuntura particularmente interessante para trabalhar com o CLAM nessa perspectiva. De 1993 para cá tem havido esforços em matéria de educação sexual nas escolas, por exemplo, a aplicação das Jocas (Jornadas de Conversação sobre Afetividade e Sexualidade) e a incorporação dos temas de sexualidade e gênero no currículo escolar, como objetivos transversais. Há uma declaração de intenção por fazer algo, mas ao mesmo tempo um déficit tremendo e o reconhecimento de que até agora não se conseguiu estabelecer o que se pensava.

Existem dois âmbitos de ação estratégica que são fundamentais: os professores que ensinam atualmente e os professores em formação, quer dizer, a “educação inicial” de professores. Sem dúvida, em ambos os espaços o déficit é enorme, uma vez que as universidades chilenas não incluem estes temas nas matérias obrigatórias de pedagogia.

Qual o objetivo do seminário? Quem são os participantes e o que esperam dele?

Teresa – Uma vez decidido replicar essa experiência no Chile, realizamos um encontro de trabalho com as pessoas encarregadas do projeto no Brasil. Pensamos então que era fundamental instalar o tema com a máxima seriedade e promover um debate geral que permitiria legitimar a experiência do CLAM entre os pares chilenos.

De fato, a proposta do CLAM chega em um momento em que em nosso país também existem algumas experiências nessa linha. A idéia é colocá-las sobre a mesa, debatê-las, aprender com elas, tirar lições, ver as barreiras, as dificuldades que apresenta a metodologia, o que há para considerar, que questões devem estar totalmente presentes em termos de acompanhamento, tipos de recursos, frequências no apoio etc. São aspectos concretos, que podem fazer que uma experiência ou um projeto seja exitoso ou fracasse.

Desta forma, o objetivo do seminário é, por um lado, apresentar e instalar a experiência do Brasil, mas também localizá-la num contexto de diálogo com as experiências chilenas, diálogo que permite que o piloto a ser desenvolvido no Chile –ainda que haja diferenças com o realizado no Brasil– possa recolher os aprendizados destas práticas. A idéia não é dizer ‘fizemos isto e veja o bom resultado’. Pelo contrário, a idéia é compartilhar enfoques diferentes e reflexões sobre eles.

Por exemplo, a pergunta sobre a educação a distância sempre é quantos dos que inicialmente se inscrevem realmente terminarão o curso. Frente a isto, há uma reflexão a ser feita: a dificuldade é a tecnologia ou é mesmo difícil trabalhar e estudar ao memso tempo? Ou botamos temas distantes da prática na escola?

As experiências chilenas que serão apresentadas são de âmbitos distintos. A formação virtual de professores provém do Ministério da Educação (MINEDUC) e é parte do Plano Nacional de Educação em Sexualidade e Afetividade. A outra corresponde ao trabalho impulsionado por Ramiro Molina, do Centro de Medicina Reprodutiva do Adolescente (CEMERA), que está mais enfocado na saúde reprodutiva.

Em relação às experiências que a sra. relata no Chile, quais são seus aprendizados e projeções?

Teresa – O mais notável é que sabemos muito pouco das duas experiências. Por esta razão o seminário será um evento muito especial, que permitirá, pela primera vez, relatar em um contexto de especialistas dedicadas aos temas de educação em sexualidade, gênero e diversidade, que participaram em ambas as iniciativas.

No caso do MINEDUC, é um programa muito recente, em processo de desenvolvimento. O objetivo era formar 2 mil professores e a atual coordenadora da Secretaría Técnica do Ministério tem uma visão mais ambiciosa e quis chegar a 6 mil professores capacitados. Vai ser interessante compartilhar o que existe em matéria de avaliação desse programa.

Fabíola Rohden é doutora em antropologia social, responsável pelo projeto de Educação a Distância no CLAM e coordernou o projeto-piloto no Brasil.

Qual a experiência do projeto já desenvolvido no Brasil?

Fabíola – No Brasil, o CLAM realizou o projeto Gênero e Diversidade na Escola, destinado à formação de profissionais da área de educação buscando a transversalidade nas temáticas de gênero, sexualidade e orientação sexual e relações étnico-raciais, em seis municípios.

O CLAM coordenou a elaboração do material didático; selecionou via Internet o(a)s cursistas; selecionou e treinou professores on-line; indicou orientadores de temas e, em parceria com o governo federal, coordenou o desenvolvimento do curso até sua etapa final.

O curso-piloto configurou-se como uma modalidade de ensino a distância (EAD), composto por uma carga horária de 200 horas. Destas, 30 foram trabalhadas em aulas presenciais, que aconteceram em cada município-pólo, entre os meses de maio e junho de 2006, por meio de seminários-participativos. O cursista teve mais 170 horas de atividades via Internet. O público-alvo prioritário foram professore(a)s do Ensino Fundamental da rede pública brasileira, mas também participaram gestores das secretarias estaduais e municipais e orientadores educacionais. O objetivo primordial do curso foi ampliar a compreensão dos cursistas sobre a dinâmica dos processos de discriminação presentes na sociedade brasileira, especificamente o racismo, o sexismo e a homofobia, possibilitando o fortalecimento de ações de combate aos mesmos. Um total de 1.054 alunos completaram o curso, predominantemente professoras(es) de 5º a 8º série do Ensino Fundamental da rede pública.

Qual o objetivo do seminário dentro da perspectiva regional?

Fabíola – Com o seminário pretende-se conhecer melhor as experiências realizadas no Brasil e no Chile e discuti-las com atores locais de diversas instâncias, como governos, universidades e ONGs. A avaliação do seminário será fundamental para os ajustes no projeto-piloto a ser realizado no Chile e para estabelecer a rede de apoio necessária à execução das suas várias etapas. Além disso, inicia-se o desafio de uma interlocução mais ampla com outros países da América Latina.

Há a possibilidade ou o interesse de replicar estas experiências em outros países da região? Quais?

Fabíola – Para o CLAM, trabalhar temas como diversidade sexual, gênero e também relações étnico-raciais é oportuno e necessário para o contexto latino-americano, apesar de ser um desafio complexo. A tecnologia da educação à distância se apresenta como uma ferramenta com grandes possibilidades de implementação de um diálogo e uma comparação regional efetiva. Nesse sentido, a proposta é que a experiência possa ser levada a outros países da região e que, sobretudo, possa ser inaugurada uma rede de parceiros interessados nessa iniciativa.

Qual a proposta do CLAM para o Chile?

Fabíola – Desenvolver e executar um projeto de educação à distância focado no tema da sexualidade desde a perspectiva dos direitos humanos que leve em consideração as particularidades regionais, tanto do ponto de vista das diferenças culturais quanto no que se refere às condições de implementação. Além dos ganhos esperados com o comprometimento dos diversos profissionais envolvidos e com a formação dos educadores, pretende-se avaliar o projeto tendo em mente sua execução em outros países da América Latina nos próximos anos.