Morreu, no início de abril, o ginecologista chileno José Barzelatto, um dos autores, ao lado de Aníbal Faúndes, do livro «O Drama do aborto: em busca de um consenso», lançado na América Latina em 2005. Conhecido e respeitado mundialmente por suas pesquisas e sua atuação em inúmeros órgãos internacionais – entre eles, a Fundação Ford e a Organização Mundial de Saúde (OMS) – Barzelatto advogava, há décadas, pelos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres e pela igualdade de gêneros. No livro, ele e Faúndes enfatizam a necessidade de as sociedades chegarem a um acordo político sobre o aborto.
Barzelatto foi membro do Conselho Diretor do Centro para a Saúde e Igualdade de Gêneros (CHANGE), organização não governamental localizada nos Estados Unidos, cujo enfoque são os efeitos da política americana relativa aos direitos das mulheres em países da África, Ásia e da América Latina.
Em lembrança à sua memória e às contribuições importantes que Barzelatto prestou no campo dos direitos humanos e da saúde sexual, o CLAM publica abaixo uma carta assinada por Jodi Jacobson, diretora do Centro para a Saúde e Igualdade de Gêneros (CHANGE). No texto, Jacobson lamenta a perda, mas enfatiza a herança deixada pelo médico.
“Caros Amigos,
É com grande tristeza que escrevo para informar a morte, ocorrida na semana, do Dr. Jose Barzelatto, membro do Conselho Diretor do Centro para a Saúde e Igualdade de Gêneros (CHANGE).
É uma grande perda para todos nós. José advogava pelos direitos reprodutivos e pela saúde sexual de todas as pessoas, antes mesmo destes temas serem amplamente reconhecidos pela comunidade global.
José também trouxe uma mistura diferente de talento e paixão pelo seu trabalho: ele era um ferrenho ativista pelos direitos humanos, um medico ético, um crente apaixonado em defender a saúde e os direitos das mulheres, jovens e outras populações marginalizadas.
Ele era um profissional raro, que compreendia os limites da biomedicina em relação a doenças baseadas na pobreza, desigualdade e discriminação. Falava de temas sensíveis, como a questão de gênero e direitos humanos bem antes destes assuntos entrarem na agenda.
Durante sua longa carreira, José foi Diretor do Programa Especial de Pesquisa e Treinamento em Reprodução Humana da Organização Mundial de Saúde (OMS), Diretor do Programa em Saúde Reprodutiva e População da Fundação Ford e, mais recentemente, Vice-Presidente do Centro de Saúde e Política Social.
Quem o conheceu, sabe das muitas contribuições que ele prestou aos campos da saúde e dos direitos sexuais e reprodutivos, além do HIV/Aids. E até mesmo quem não o conheceu pessoalmente, certamente o conhece pelo seu trabalho.
Durante seu mandato na Fundação Ford, ele financiou muitos grupos que atualmente lideram o esforço global para promover e proteger os direitos da mulher. De fato, se não fosse por Jose, a CHANGE não existiria. Em 1994, ele e sua então assistente Margaret Hempel (agora Vice Presidente da Fundação) deram à CHANGE sua primeira doação. Ele era um infalível apoiador de nosso trabalho e foi, durante os anos seguintes, um membro do Conselho Diretor da CHANGE.
Nós sentiremos sua falta, mas também sabemos que na realidade a herança deixada por José viverá para sempre.
Jodi Jacobson”