As não monogamias têm se consolidado como um campo de reflexão, pesquisa e prática que desafia normas tradicionais e propõe outras maneiras de organização das relações afetivas e íntimas. Vivemos um momento em que as formas de se relacionar e de reelaborar as intimidades têm sido cada vez mais debatidas em diferentes esferas: nas ciências, nos movimentos sociais, nos Estados, nas mídias, nas artes, nas culturas e nos espaços da internet. Nesse cenário, torna-se fundamental a criação de encontros críticos que possibilitem a troca de vivências e saberes, de forma a ampliar o debate sobre os impactos e possibilidades das não monogamias no mundo contemporâneo.
A Conferência NMCI foi criada em resposta à necessidade de estabelecer espaços de discussão sobre essas questões, em diferentes países, reunindo participantes da academia, artistas, ativistas e outras pessoas envolvidas em pesquisas, políticas e práticas relacionadas às não-monogamias e aos modos contemporâneos de intimidade.
A Conferência ocorre a cada dois anos e tem sido realizada em diferentes partes do mundo. A primeira edição ocorreu em Lisboa (Universidade Nova de Lisboa), em 2015; a segunda em Viena (Universidade Sigmund Freud), em 2017; a terceira em Barcelona (Universität Pompeu Fabra, Centro Cívico Pati Llimona e Sala Apolo), em 2019; a quarta aconteceu de forma online no contexto da pandemia em 2021 e presencialmente em Valparaíso, Chile, (Universidad de Valparaíso), em 2023. Nesta quinta edição a conferência será realizada na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, (Universidade Federal do Rio de Janeiro), campus Praia Vermelha, em 2025.
No Brasil, essas discussões têm se expandido desde o início do século XXI. Grupos sociais articulados às vivências e conceitos de relações livres e poliamor, principalmente, contribuíram para promover as relações não monogâmicas como uma questão importante na agenda de debates públicos. Desde então, o número de pessoas com práticas e identidades não monogâmicas tem crescido, e coletivos que buscam refletir suas próprias realidades e repensar novas formas de afeto e sexualidade se expandem por todo o território nacional.
O Brasil tem ocupado um lugar de destaque nas discussões sobre não monogamia, principalmente devido às disputas jurídicas relacionadas ao reconhecimento de uniões estáveis “poliafetivas”, que começaram em 2012 e foram proibidas em 2018 pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Em 2020, em meio ao acirramento das discussões públicas, foi criado o grupo de pesquisa “Não-mono: Políticas, Afetos e Sexualidades Não-Monogâmicas” (CNPq), responsável pela organização da 5ª NMCI. O grupo reúne pessoas pesquisadoras de universidades de norte a sul do país dedicadas ao estudo das relações não monogâmicas, como poliamor, relações livres, swing, relacionamento aberto, poligamia, entre outras.
De maneira geral, o crescimento do debate ocorre em um cenário político e social complexo, onde discursos conservadores buscam impor visões rígidas sobre relações e afetos, enquanto movimentos de resistência reafirmam a importância da diversidade e da autonomia nas configurações relacionais.
Afinal, como as pessoas têm construído suas vidas afetivas diante de tantas concepções que se transformam constantemente? E como as não monogamias contribuem para a ampliação dos modos de existir e afetar o mundo, em meio a um contexto de crescimento do fascismo e conservadorismo?
É nesse cenário que temos data marcada para 29 e 30 de novembro na modalidade online e 03, 04 e 05 de dezembro de forma presencial no Rio de Janeiro, para que possamos compartilhar, compreender e contribuir para essas questões, que, de maneira intensa, têm composto o debate público.
Sobre a chamada:
A 5ª Conferência NMCI é um espaço de reflexão e diálogo inter e transdisciplinar, reunindo diferentes áreas como Ciências Sociais, Psicologia, Direito, Ciências da Saúde, Comunicação, Artes, além de movimentos sociais. O evento busca integrar uma série de perspectivas críticas sobre gênero e sexualidade, família e parentesco, colonialidade, raça e etnia, direitos humanos e economia política, assim como temas transfeministas, teoria queer/cuir, estudos culturais, pós e transhumanismo, entre outros.
- Estado e direitos – Relações entre Estado, direito e monogamia, mononormatividade e reconhecimento legal das não monogamias, formas emergentes de ativismo judicial, alternativas à centralidade jurídico/institucional da família nuclear nas políticas públicas e de assistência social.
- Família e Parentesco – Multiparentalidades e a biopolítica emergente do parentesco humano e não humano. Parentescos não monogâmicos e múltiplas concepções de parentesco reconhecidas ou não pelo Estado. Parentesco entre povos indígenas. Perspectivas queer/cuir em Abya Yala.
- Movimentos sociais e ativismos não monogâmicos – Dissidência relacional e experiências ativistas; relações entre o ativismo não monogâmico e os movimentos feministas, LGBTQIAPN+, antirracistas entre outros. Interseções entre sexualidade, ordem pública, precariedade econômica, pânicos morais, repressão a protestos e demais opressões originadas pelo sistema capitalista e neoliberal.
- Saúde coletiva e Psicoterapias – Violências nas práticas e discursos profissionais e nas políticas públicas de saúde que reproduzem a mononormatividade. Relações entre moralidades monogâmicas e saúde pública, corpo e vulnerabilidades. Semelhanças e contrastes nos efeitos da pandemia de HIV/AIDS e da Covid-19 sobre as dissidências sexuais. Fortalecimento de redes virtuais de apoio e espaços de acolhimento para grupos de não monogamia. Psicoterapias e redes de cuidado no contexto das relações não monogâmicas.
- Subjetividades, identidades e práticas sociais – Produção de subjetividades contemporâneas, práticas de emancipação, autonomia e desconstrução de estereótipos. Construção de identidades políticas e práticas contra-hegemônicas. Processos de subjetivação nas relações não monogâmicas, incluindo hierarquização, ciúmes, compersão e outros aspectos.
- Territorialidade, colonialidade, diferenças culturais e geopolíticas – Relações Norte-Sul nos estudos sobre não monogamias. Monogamia, catequização e colonização. A hipersexualização de corpos não brancos e corpos não monogâmicos. Relações entre poliamor, poligamia, islamofobia e outras formas de xenofobia. Racismo em comunidades não monogâmicas. Dissidência relacional no Sul Global, etnocídio e sexualidade. Ball culture. Abordagens pós-coloniais, decoloniais, anti e contracoloniais. Relações com o meio ambiente no Antropoceno.
- Opressões de gênero e práticas sexuais não monogâmicas – Não monogamia política, relações livres, anarquia relacional, poliamor, relacionamento aberto, swingers, entre outros. Trabalho sexual, sexualidades e afetividades online, cibersexo, BDSM, aplicativos de namoro, assexualidade, etc. Feminismos, masculinidades, machismo e misoginia. Debates sobre como essas práticas e outras categorias estão tensionando normas de gênero e sexualidade.
Datas importantes:
31 de agosto a 30 de setembro: Inscrições em período regular;
03 de outubro: Divulgação das normas de apresentação dos trabalhos;
29 e 30 de novembro: Modalidade online da 5ª Conferência sobre não monogamia e intimidades contemporâneas;
03, 04 e 05 de dezembro: Modalidade presencial da 5ª Conferência sobre não monogamia e intimidades contemporâneas.
Acesse aqui a página do evento.
* Texto originalmente publicado no site do evento.