“Autonomia, liberdade e poder”, afirmou, de forma objetiva, a antropóloga Maria Luiza Heilborn (CLAM/IMS) ao procurar responder à célebre pergunta nunca respondida por Sigmund Freud, e que dava nome ao seminário realizado pelo Departamento de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ) e pelo Globo Universidade, no último dia 28 de outubro.
Maria Luiza observou que o movimento feminista foi o responsável por grandes mudanças relativas ao papel da mulher no século XX – especialmente à maneira como estas vêem o mundo. “Surgiram vários movimentos sociais extremamente importantes, entretanto é pelo feminismo que mudanças essenciais relacionadas às mulheres se imprimem, como a conquista de um maior nível de escolarização e aumento em seu poder de decisão. Elas também passaram a ocupar espaços de consumo, lazer e sociabilidade que antes lhes eram inacessíveis. As mulheres queriam autonomia e isso aconteceu”, ressaltou.
No entanto, salientou a antropóloga, se de um lado houve ganhos que impactaram as relações entre gêneros, por outro permanecem assimetrias na hora de avaliar o desempenho ou reconhecer a competência feminina. “As mulheres ainda se deparam com escolhas limitadas. Em posições que requerem tomadas importantes de decisão, são raras as presenças femininas. Basta lembrar que hoje elas ainda representam 9% do Legislativo brasileiro. Por isso, é muito louvável o fato de nesta eleição termos uma mulher concorrendo ao cargo de presidente da república com chances reais e equânimes de êxito”, afirmou.
A pesquisadora também falou sobre os mecanismos que dificultam a chegada das mulheres ao poder. “A mulher é fundamentalmente vista como mãe, esposa e cuidadora dos filhos ou dos mais velhos. Também foram construídas para serem histéricas e compulsivas, fruto de processo de medicalização. A tensão pré-menstrual (TPM), por exemplo, foi construída pelos dispositivos do saber médico. Curiosamente, o corpo masculino permaneceu intocável ao longo dos séculos. Assim, como efeito desse processo histórico, temos o corpo feminino adoentado e o corpo masculino sacralizado, com suas diferenças ancoradas na biologia. Mas a Biologia não é o destino”, finalizou a antropóloga, citando a máxima de Simone de Beauvoir, concebida originalmente para questionar a formulação de Sigmund Freud de que “a biologia é o destino”.
Além de Maria Luiza Heilborn, participaram como palestrantes na mesa “A mulher e o desejo: a condição feminina”, Lívia Barbosa (ESPM-SP), Silvia Alexim Nunes (UERJ), Teresa Creusa de Góes Monteiro (PUC-Rio) e a atriz Maria Fernanda Cândido (TV Globo), tendo como mediador o Psicólogo Social e professor da PUC-Rio Bernardo Jablonski. Tomando como ponto de partida a questão levantada pelo “pai da psicanálise”, elas debateram a relação da mulher com o desejo e o poder.
“Afinal, o que querem as mulheres?” também dá título ao seriado da Rede Globo de Televisão, que tem estréia prevista para 11 de novembro.
Foto: Renato Velasco