A 9ª Parada do Orgulho GLBT em São Paulo, que levou à Avenida Paulista mais de 2 milhões de pessoas no dia 29 de maio, foi campo para a pesquisa Política, Direito, Violência e Homossexualidade, realizada numa parceria do CLAM (IMS/Uerj) e do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC/UCAM), autores do projeto, com a Universidade de São Paulo (USP) e a Unicamp. O estudo, inédito na parada da capital paulista, visa traçar o perfil social e político dos manifestantes e levantar dados de vitimização e discriminação de homossexuais no Brasil.
“Aplicar essa pesquisa naquela que hoje é a maior parada GLBT do mundo é um desafio. É importante porque ainda temos uma quantidade pequena de estudos desta ordem e este estudo simboliza um aumento importante nos dados sobre a população GLBT”, observa a antropóloga e doutoranda da Unicamp Regina Facchini, uma das coordenadoras da pesquisa.
O estudo já foi realizado pelo CLAM e pelo CESeC durante as paradas do Rio, em 2003 e 2004, e de Porto Alegre em 2004, em parceria com o Arco-Íris e o Nuances, grupos ativistas que organizam as paradas nas duas cidades. Em São Paulo, o projeto contou com o apoio da Associação da Parada do Orgulho GLBT e foi adaptado às demandas do movimento paulista. O bloco de perguntas mais alterado foi o de saúde.
“Levantamos questões típicas do enfoque que é dado pelo movimento em São Paulo. Por exemplo, no bloco sobre saúde retiramos a pergunta se a pessoa usa camisinha ou não. Substituímos por questões do tipo Você já fez o teste do hiv? ou, para as mulheres, Você visita o ginecologista? e, para os transgêneros, Você usa ou já usou hormônios ou silicone?. Priorizamos perguntas sobre redução de danos”, conta Regina.
As mudanças, segundo a pesquisadora, foram resultado da cobrança do movimento paulista de que as identidades fossem levadas em conta. “Em São Paulo há uma explosão de identidades”, diz ela.
Uma outra novidade em relação à pesquisa original foi a abordagem sobre violência policial. “Por aqui temos mais denúncias de travestis vítimas da violência da polícia. Foi uma mudança que não podíamos deixar de fazer, já que queríamos aumentar os dados sobre travestis e transexuais. Com relação à violência e à exclusão social eles têm dados muito importantes”.
Violência, discriminação, leis e direitos são enfocados
Foram respondidos cerca de 800 questionários com 37 perguntas cada, divididas em cinco blocos. O primeiro bloco procura identificar a identidade sexual dos entrevistados. O segundo aborda questões de conjugalidade e parentalidade.O estudo enfoca também aspectos relativos à sociabilidade e sexualidade dos manifestantes. Na primeira questão do bloco sexualidade o entrevistado responde se já assumiu sua orientação sexual para a família, amigos, colegas de trabalho, de escola ou faculdade, ou mesmo se ainda não assumiu. A próxima série de perguntas trata de mobilização, direitos e violência e avalia o conhecimento do respondente a respeito de leis estaduais e federais que beneficiem gays, lésbicas, travestis, transexuais ou bissexuais.
O questionário passa então a abordar questões ligadas à violência e à discriminação. O entrevistado é questionado se já foi vítima de algum tipo de discriminação, de agressões verbal ou física, de violência sexual ou de chantagem e extorsão. O estudo investiga ainda qual a agressão mais grave sofrida pelo entrevistado, quem a cometeu, onde e se a vítima relatou o fato alguém ou a algum órgão de defesa.
Também foram coletadas opiniões do entrevistado em relação ao projeto de Parceria Civil, que prevê o reconhecimento legal das uniões afetivas entre pessoas do mesmo sexo, e sobre gays, lésbicas, transgêneros ou bissexuais terem ou criarem filhos. O último bloco traça o perfil sócio-econômico e toca em assuntos como raça e religião.
O estudo passará agora para um banco de dados e resultará em um documento. O documento com os resultados da pesquisa do Rio de Janeiro de 2004 será lançado no dia 23 de junho, no Museu da República, às 19h, durante a Semana do Orgulho GLBT da capital carioca, que termina com a realização da Parada de Copacabana no dia 26.
Clique aqui para fazer o download do relatório do Rio/2003.