CLAM – Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos

Direitos preservados

Entre os dias 23 e 27 de agosto foram realizadas as eleições para os quadros diretivos do Sistema Conselhos de Psicologia, que engloba os Conselhos Regionais de Psicologia (CRPs) e o Conselho Federal de Psicologia (CFP), para o triênio 2020-2022. Das cinco chapas que participaram da disputa, sagrou-se vitoriosa a chapa 21, da Frente em Defesa da Psicologia Brasileira, com 44.259 votos – quase 50% dos votos válidos.

Na sua campanha, a Frente havia-se declarado defensora dos “avanços da psicologia ética, com rigor técnico e científico, a favor dos direitos humanos e sociais e das políticas públicas voltadas aos interesses da cidadania”, como “resposta esperançosa frente aos ataques [contra essa pauta e frente a seus] retrocessos”.

No pólo oposto concorreu a Chapa 24, do Movimento Psicólogos em Ação, encabeçada pela missionária e assessora da bancada evangélica Rozangela Justino. A candidata notabilizou-se por ter sido a primeira profissional advertida (no seu caso pelo CRP-RJ) por violar o instituído pela Resolução CFP 01/99, em decorrência da sua defesa das “terapias de reorientação sexual”.

As pautas do movimento liderado por Justino fizeram com que a eleição pelos conselhos de psicologia repercutisse para além do âmbito profissional da psicologia. Buscando o apoio de profissionais simpatizantes do governo federal e dando apoio a este, a Chapa 24 divulgou em suas mídias sociais, por exemplo, sua afinidade com a Ministra Damares Alves, tanto antes como depois das eleições.

Pela primeira vez desde 1997, ano em que foram instituídas eleições para os Conselhos, a votação se deu totalmente on-line. Todas(os) as(os) psicólogas(os) vinculadas(os) aos seus respectivos Conselhos Regionais e com os seus dados atualizados junto ao CFP estiveram aptas(os) a participar da votação. Conforme informações do próprio CFP, votaram no pleito 101.377 psicólogas(os).

Apesar de a concorrência ser entre cinco chapas, durante a campanha eleitoral, a disputa parecia polarizada entre as chapas 21 e 24, que apresentavam propostas radicalmente opostas quanto aos princípios ético-políticos defendidos pelos movimentos que cada uma representa dentro da profissão. Essa oposição se manifestou em ataques aos direitos sexuais e reprodutivos por parte do setor afim ao governo nacional, amplificados através da sua atuação nas mídias sociais.

No entanto, o resultado das apurações revelou outro cenário. A Frente em Defesa da Psicologia Brasileira levou a robusta quantidade de 44.259 votos, enquanto a chapa 24 ficou em último lugar, com o pouco expressivo resultado de 5.458 votos. O restante dos votos se distribuiu entre as outras três chapas, brancos e nulos.

Na campanha eleitoral, no âmbito dos conselhos regionais verificou-se a mesma polarização constatada em nível federal. De igual modo que no pleito pelo CFP, o Movimento Psicólogos em Ação disputou os Conselhos Regionais do Rio de Janeiro e do Distrito Federal. E, assim como no nível federal, os apoiadores da Frente em Defesa da Psicologia Brasileira (chapa 21) saíram vitoriosos nas urnas, preservando a perspectiva laica e o cultivo da diversidade no exercício da profissão.