CLAM – Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos

Encontro de gerações

O feminismo está se renovando, concordam as feministas, ao fazer um balanço do 10º Encontro Feminista Latino-Americano e do Caribe, realizado em São Paulo. Esta foi a edição que reuniu o maior número de jovens feministas – 25% das participantes eram mulheres com menos de 30 anos. Foi a primeira vez, em todas as suas edições, que o Encontro obteve participação tão significativa de jovens feministas. “Nos últimos dois anos, nos esforçamos para que isso acontecesse”, afirma a diretora do Instituto Patrícia Galvão – Comunicação e Mídia, Jacira Melo, que participou da organização deste e de Encontros anteriores. Ela prefere evitar comparações, mas garante que o encontro de gerações foi um diferencial.

“Qualquer movimento precisa de renovação. A participação expressiva de jovens feministas no 10º Encontro significa que o feminismo está se renovando. O encontro é um lugar coletivo de reflexão, e juntar varias gerações foi muito positivo e vital”, analisa Jacira.

Para a jornalista Fernanda Grigolin, integrante do Jovens Feministas de São Paulo, a partir da discussão sobre juventude é possível pensar muitas questões do próprio feminismo, como as relações de poder, por exemplo. “O feminismo não pode ser um espaço hierárquico, sem transparência. Deve ter no seu interior um debate de igual para igual, entre os mais diversos sujeitos políticos, inclusive entre as gerações”, observa.

Ela lembra que, no final do Encontro, em uma atividade intitulada Diálogos Intergeracionais, mulheres de diversas gerações se reconheceram como pares e discutiram juntas como promover ações dentro do movimento feminista. A proposta era trocar experiências entre as gerações e construir ações comuns. A dinâmica da atividade foi construída de forma que as mulheres em pares, sempre uma jovem e uma mulher de outra geração, falavam de si, da sua entrada no feminismo, suas demandas e especificidades.

“Compartilhando nossas histórias de vida e de luta, pudemos fortalecer os pontos de comunicação que já alicerçamos e localizar aqueles que ainda precisam ser construídos. É importante ampliar este tipo de diálogo a nossas organizações e a todos os encontros que tenhamos, uma vez que deles saem as estratégias concretas para fortalecer a continuidade do movimento”, lembra a integrante da Rede Jovem pelos Direitos Sexuais e Reprodutivos (México), Marusia Lopez Cruz, que apresentou o painel “Passado, presente e futuro do feminismo na América Latina e no Caribe”.

Movimento mais plural

Discutir a relação entre feminismo e democracia foi o eixo central do Encontro, que trouxe para o centro do debate questões pouco aprofundadas pelo movimento. “O feminismo tem feito contribuições importantes para a democracia na América Latina. O movimento afirma que é preciso ter democracia nas relações sociais, humanas e de poder entre homens e mulheres. É preciso ter democracia nas relações sociais. Vivemos em um continente onde a democracia precisa ser aprofundada e essa é a maior contribuição do feminismo”, avalia Jacira Melo. “E não é possível falar em democracia sem pensar a questão da desigualdade racial, num país de quase 50 % de população negra”.

O racismo foi outra questão discutida na perspectiva das pluralidades e especificidades do movimento feminista. Para muitas, o feminismo ainda não assumiu a luta anti-racista. “Apesar dos avanços conquistados pelo movimento de mulheres negras, a questão racial permanece como tema periférico das discussões do feminismo, sendo tratado sob a ótica da mulher negra, como se o racismo fosse um problema afeito apenas a esse segmento da população”, analisa a coordenadora do Geledés – Instituto da Mulher Negra, Nilza Iraci. A crítica é compartilhada por Jacira Melo. “Todos os movimentos sociais, inclusive o feminismo, estão em dívida com o movimento negro”, diz ela.

Uma das reflexões mais importantes do Encontro foi em torno da inclusão das diversidades, particularmente a do movimento trans e sua participação no próximo Encontro Feminista, que acontecerá no México, em 2008.

“Esta era uma demanda nova para o movimento e precisava ser pensada. A questão só poderia ser discutida dentro do Encontro. Tivemos posicionamentos favoráveis e desfavoráveis, mas decidimos que no próximo haverá a participação de mulheres trans que se auto definem feministas”, afirma Jacira Melo.



Veja a íntegra da apresentação de Marusia Lopez – “Algumas reflexões para aprofundar e construir movimento” (texto em espanhol)


Leia entrevista com Marusia Lopez (texto em espanhol)