A pesquisa Política, Direitos,Violência e Homossexualidade mostra que os gays estão cada vez mais valorizando relações amorosas estáveis, derrubando o estereótipo da promiscuidade. Os resultados foram lançados no dia 23 de junho, no Museu da República, no Rio de Janeiro.
O estudo, realizado durante a Parada do Orgulho GLBT do Rio em 2004, abordou, entre outros temas, a situação amorosa dos entrevistados. Um número significativo de participantes (25,7%) encontram-se casados, 20,4% namorando e 14,2% afirmaram estar “ficando”. Embora 39,5% dos respondentes tenham declarado-se solteiros e sozinhos, a maioria (46%) deles revelou envolvimento em relações amorosas estáveis, o que ajuda a relativizar a imagem hegemônica do homossexual sozinho e promíscuo.
A pesquisa mostra o quanto o olhar dos entrevistados é seletivo. Entre os 514 homens e mulheres (homossexuais, bissexuais e trangêneros) que responderam às perguntas sobre a idéia de parceiro ou parceira ideal, 95% manifestaram algum tipo de preferência em suas escolhas amorosas.
O questionário indagou, por exemplo, se o entrevistado gostaria de ter ao seu lado alguém mais masculino, mais feminino ou igual a ele, ou no caso das mulheres homossexuais, se estas namorariam uma mulher mais masculina, mais feminina ou igual a ela. No caso dos gays, 44,6% disseram preferir parceiros mais masculinos que eles, e as mulheres homossexuais o extremo oposto – 46% preferem parceiras mais femininas. Os transgêneros chegam a ultrapassar os gays na preferência por tipos mais masculinos: 67,6% deles expressaram essa preferência. A maior parte dos bissexuais (43,2%) responderam que preferem alguém como eles.
“A valorização do masculino e a rejeição do feminino pelos gays, e a valorização do feminino e rejeição do masculino pelas lésbicas é quase que um espelho invertido”, avalia o antropólogo Sérgio Carrara, do Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM), que coordenou a pesquisa junto com a socióloga Silvia Ramos, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC/UCAM) e o ativista Márcio Caetano, diretor cultural do Grupo Arco-Íris.
“No caso dos homens homossexuais, percebemos uma ênfase no reforço de uma figura viril, levando em conta os padrões de beleza do mundo contemporâneo, que se integra no mundo gay. Talvez o que eles queiram seja parceiros mais discretos”, diz Carrara.
Segundo o antropólogo, isto não quer dizer que os gays hoje em dia estejam mais masculinizados. “A feminilidade continua sendo o signo de visibilidade maior do homossexual masculino”.
O mesmo foi feito em relação à cor/raça de seus parceiros. Os entrevistados foram perguntados se preferiam alguém mais claro, mais escuro ou da mesma cor/raça. A maioria dos respondentes manifestou alguma preferência quanto a esses quesitos: além dos 13,5% que escolheram pessoas da sua mesma cor/raça, os que priorizaram os mais claros (16,3%) correspondem a mais do dobro dos que preferiram os mais escuros (7,1%). Curioso é que a pesquisa mostra que a opção pelos “mais claros” é mais acentuada justamente entre os que se classificaram como “pardos” (23%) e “pretos” (20,4%) do que entre os que se denominaram “brancos” (11,4%).
Considerando que o tema da Parada Gay Rio 2004 foi “União Civil Já”, o estudo também colheu as opiniões dos entrevistados sobre o Projeto de Parceria Civil. O que chama a atenção é o alto número de pessoas que disseram não conhecer o projeto (35,9%); menos que a metade (45,9%) afirmou conhecer e concordar com a proposta, enquanto 2,1% disseram discordar. Mesmo estando a par do assunto, cerca de 15% preferiram não opinar a respeito.
Depois de ser realizada no Rio em 2003 e 2004, e em Porto Alegre em 2004 (em finalização), a pesquisa foi feita pela primeira vez na Parada do Orgulho GLBT de São Paulo, que reuniu mais de 2 milhões de pessoas na Avenida Paulista, no dia 29 de maio de 2005.