CLAM – Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos

Estudantes do IMS/UERJ participam da Semana Discente do PPGSA/UFRJ

Em 19 de setembro de 2024, os doutorandos do Instituto de Medicina Social (IMS) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e colaboradores do CLAM, Ana Luiza Morais e Luis Phillipe Nagem Lopes, participaram do Grupo de Trabalho (GT) “Questões Transgêneras” na Semana Discente do Programa de Pós-graduação em Sociologia e Antropologia.

Ambos apresentaram o trabalho intitulado “Crianças trans em disputa: mapeando espaços, discursos e atores que negam o gênero em ambientes digitais”, que contou com as reflexões iniciais de pesquisas conduzidas pela professora Elaine Brandão e da doutoranda Júlia Freire de Alencastro, pesquisadoras do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC-UFRJ), com a participação do discente Luis Phillipe. Em linhas gerais, o esforço investigativo toma como objeto o Movimento Infância Plena, a partir das lentes teórico-metodológicas dos estudos sociais da ciência e da teoria cuir/queer. Em diálogo com essa investigação exploratória, as reflexões apresentadas no GT também emergem das problematizações da pesquisa de doutorado traçadas pela discente Ana Luiza, que pretende versar sobre as ofensivas antigênero e anti-trans em seus contatos com o campo dos direitos sexuais desde uma perspectiva decolonial.

O GT, organizado por Aoi Berriel (UFRJ) e Zett Ribeiro (UFRJ), foi um espaço de discussões importantes sobre a forma como as questões transgêneras têm sido ainda pouco visibilizadas nos espaços acadêmicos, sinalizando a importância das agendas de pesquisa que destaquem a vida, as formas de resistência, os diferentes processos criativos e de visibilidade das pessoas trans nos espaços de produção do conhecimento. O espaço também possibilitou alianças políticas e oportunidades para estreitar laços afetivos e teóricos, compartilhando vivências, referências e afetações em torno dos trabalhos apresentados.

Confira o resumo do trabalho apresentado na Semana Discente do PPGSA/UFRJ

O pânico moral a partir das pautas dos direitos de pessoas trans não é recente, mas tem sido potencializado a partir da ascensão da extrema direita em todo mundo. No Brasil, um grupo autodenominado “Movimento infância plena” (MIP) composto por profissionais de diferentes setores (saúde, educação, segurança, justiça, jornalismo e profissionais liberais), bem como famílias, tem reivindicado um espaço nas discussões sobre gênero, principalmente envolvendo as infâncias. O MIP, a partir de frentes parlamentares e representantes da medicina, tem angariado importantes atos políticos e disseminado informações sobre o tema em suas redes sociais. Temos acompanhado etnograficamente, desde junho de 2023, o MIP em ambiente digital, analisando como o grupo e seus representantes têm mobilizado a verdade enquanto dispositivo através de argumentações “científicas” e feministas que negam a existência de crianças trans ou as realoca na categoria dos transtornos mentais. Discutimos, a partir disso, os “negacionistas de gênero”, que, de acordo com Paul Preciado, obliteram vozes, discursos e atores em relações simbióticas e aparentemente contraditórias. Argumentamos que a negação se constitui a partir de uma agenda antitrans, produzindo reverberações na realidade política e social. Portanto, em diálogo com a teoria queer e transfeminista, discutimos como os “negacionismos de gênero” se articulam com as políticas de identidade e com o funcionamento do Estado-nação do individualismo neoliberal.

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