“Minha parede da memória: da Baixa do Corte à Baixada Fluminense”, versão audiovisual da tese de Ueslei Solaterrar, está disponível no canal do CLAM/IMS/UERJ no Youtube.
Com roteiro e direção de Ueslei e editado por Arthur Scholz, o documentário foi elaborado e exibido pela primeira vez em maio de 2024 na apresentação da defesa da tese de doutorado “(Sobre)viver na zona de quase-morte: o (des)fazer do cuidado em saúde mental a pessoas negras no cotidiano pandêmico da Baixada Fluminense”,desenvolvida por Solaterrar, sob orientação da professora Laura Lowenkron (CLAM/IMS/UERJ), no Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do Instituto de Medicina Social da UERJ. Agora disponível no Youtube do CLAM, o vídeo pode ser acessado por um público mais amplo e circular por novos espaços, para além das fronteiras acadêmicas.
A partir de reflexões a respeito dos modos de produção e circulação dos conhecimentos científicos, Ueslei Solaterrar questiona o acesso a tais conhecimentos. “Quem pode ler uma tese no formato acadêmico tradicional? Quem ela inclui? Quem ela exclui?”, indaga. Visando transpor os modos tradicionais da ciência e da academia de produzirem e divulgarem os conhecimentos acadêmicos, o autor produziu o documentário sobre sua tese. “O vídeo é um manifesto por e para um contra projeto de ciência. No fundo, eu queria que essa tese fosse um vídeo, um documentário, uma imagem, uma carta, uma música, uma performance corporal”, afirma o pesquisador. “Este é um vídeo manifesto, uma estratégia de redução de danos contra um projeto de uma tese e ciência moderno colonial”, explica.
Com duração de 18min e 51seg, o documentário apresenta a trajetória autobiográfica do autor, entrecruzando a história de sua família à sua trajetória profissional e intelectual, desvelando inquietações pessoais, coletivas e revelando como essas questões se associaram aos seus interesses e objetos de pesquisa. Homem cis negro, baiano, homossexual, psicólogo, pesquisador, trabalhador da RAPS e ativista da luta “antimanicolonial”, Ueslei nos conta sobre sua infância na cidade de Alagoinhas no interior da Bahia, sobre a presença decisiva das mulheres e os cuidados que dedicaram à família e às crianças, sobre a ausência do pai e do avô, sobre os temores em relação à homofobia e a esperança colocada nos estudos e no futuro como doutor. Solaterrar explica como se interessou pela questão da saúde mental e narra um pouco da sua trajetória até o desenvolvimento da tese, que aborda a “reforma psiquiátrica brasileira, raça e racismo, luta antimanicomial, cura e o fim do mundo como o conhecemos”, afirma.
Durante a defesa da tese, o professor André Mendonça (IMS/UERJ), membro da banca examinadora, dedicou uma carta-poema à tese, dialogando com a proposta decolonial de trazer outras linguagens para o debate acadêmico. A banca de doutorado contou também com os professores Martinho Braga (IMS/UERJ), Raquel Gouveia (UFRJ), Fátima Lima (UFRJ), Lupicinio Iñiguez-Rueda (UAB) e o convidado de honra Hamilton Assunção, usuário da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), militante e artista da luta antimacomial. Ueslei Solaterrar é graduado em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia. Em 2018, ingressou no mestrado, sob orientação da professora Laura Lowenkron (CLAM/IMS/UERJ), tendo desenvolvido dissertação intitulada “Sobre AFROntar a Casa-Grande e botar a cara no sol: Uma etnografia transviada de formas de gestão do sofrimento”, defendida em 2020. Além de pesquisador associado ao CLAM, integra a Rede Transnacional de pesquisas sobre maternidades destituídas, violadas e violentadas (REMA). Ademais, é supervisor clínico-institucional do CAPS II e CAPSi de Queimados-RJ e professor do Curso de Psicologia da Universidade Estácio de Sá (campus Campo Grande-RJ).