CLAM – Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos

O CLAM na VIII Conferência da IASSCS

O Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM) participou, em Madri, da VIII Conferência da Associação Internacional para o Estudo da Sexualidade, Cultura e Sociedade (IASSCS, na sigla em inglês). O evento, intitulado “Naming and Framing: The Making of Sexual (In)Equality”, aconteceu entre os dias 6 e 9 de julho, e abordou as múltiplas formas que equidade e inequidade se articulam através da sexualidade..

Em painel organizado pelo CLAM – intitulado “Investimentos em pesquisas sobre direitos sexuais na América Latina” –, examinou-se o processo de deslocamento dos debates em sexualidade da esfera privada para a esfera da regulação pública, processo este observado nos últimos anos na América Latina como resultado de décadas de um ativismo social, político e acadêmico em resposta a um panorama local de desigualdades e discriminação contra as chamadas minorias sexuais. Veja, a seguir, os resumos dos papers apresentados neste painel:

Sexualidade e direitos na América Latina: balanço de um movimento intelectual

Apresentado por Mario Pecheny (UBA/CONICET/CLAM, Argentina); co-autor Sérgio Carrara

Baseado em 40 entrevistas junto a intelectuais cujos trabalhos enfocam a interseção entre sexualidade, política e direitos na Argentina, Brasil, Chile, México, Colômbia e Peru, o paper abordou a emergência dos estudos teóricos, metodológicos e políticos neste campo em diferentes países da região.

Sexualidade Feminina encarando o aborto: um estudo socio-antropológico entre jovens mulheres em três cidades latino-americanas

Apresentado por Maria Luiza Heilborn (CLAM/IMS/UERJ, Brasil); co-autoras Mónica Petracci (CEDES, Argentina) e Mara Viveros Vigoya (Universidad Nacional de Colombia)

O paper analisou as conexões entre o exercício da heterossexualidade e os temas da contracepção e o aborto, baseando-se em 45 testemunhos concedidos por jovens mulheres de diferentes classes sociais, residentes em Bogotá, Buenos Aires e Rio de Janeiro, entrevistadas pelo HEXCA, projeto de pesquisa sobre heterossexualidade, aborto e contracepção promovido pelo CLAM. No estudo, as mulheres (de idades entre 18 e 27 anos) ressaltaram o contexto conjugal que culminou a gravidez não planejada, o número de crianças que tiveram anteriormente ao evento desta gravidez, as expectativas em relação à maternidade e as condições materiais suas e de seus parceiros. Mudanças sociais significativas no campo da sexualidade e gênero não alteraram o fato de que a responsabilidade contraceptiva continua sendo exclusivamente feminina.

A emergência, o desenvolvimento e as contradições da sexologia na América Latina: entre a globalização e as abordagens nacionais

Apresentado por Jane A. Russo (CLAM/ IMS/ UERJ, Brasil); co-autor Alain Giami (Inserm, França)

Baseado em um estudo etnográfico desenvolvido em seis países latino-americanos – Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru –, o paper apresentou um panorama do campo da sexologia, onde a saúde sexual, os direitos sexuais e a medicina sexual aparecem em uma complexa interação, mostrando diferentes configurações em cada país. Além disso, a sexologia aparece fortemente fixada em cada contexto nacional, marcada pela presença de ditaduras, a influência do catolicismo e das igrejas evangélicas e padrões de desenvolvimento econômico.

Normais ou dissidentes: a legalização das uniões entre pessoas do mesmo sexo na Cidade do México

Apresentado por Rodrigo Parrini (UAM-Xochimilco); co-autor Ana Amuchástegui, (UAM-Xochimilco) e baseado em análises de debates públicos sobre o chamado “casamento gay” e em entrevistas com pessoas que assinaram contratos de parceria civil no México, o paper versou sobre reivindicações relacionadas ao casamento, adoção e demandas por igualdade.

A pesquisa EROTICS

O CLAM também esteve envolvido no painel “Sociabilidade eletrônica, gênero, sexualidade e regulação da Internet”, organizado pela APC (Associação para o Progresso das Comunicações) , onde o pesquisador Horácio Sivori (CLAM) apresentou os achados do Projeto “EROTICS – Exploratory research on sexuality and ICTs” conduzido no Brasil em parceria com o SPW (Sexuality Policy Watch). Veja abaixo o Paperapresentado:

EROTICS BRAZIL

Apresentado por Horácio Sívori (CLAM); co-autores Bruno Zilli e Sonia Correa (SPW)

O paper destacou as três linhas de investigação exploradas no projeto: 1) observação e análise do debate público e legislativo atual sobre a regulação da Internet, identificando e descrevendo as principais arenas políticas, argumento, agências e instituições engajadas, assim como os atores governamentais e da sociedade civil envolvidos; 2) aplicação de um questionário online junto a militantes dos movimentos LGBT e feminista; 3) observação e análise de uma rede para afirmação da identidade sexual no Orkut, importante rede social no Brasil, identificando dois casos particulares: i) uma comunidade online engajada na legitimação das relações adulto-adolescentes, e ii) mulheres que respondem a assediadores lesbofóbicos online. Estes dados revelam o amplo escopo das práticas regulatórias da Internet brasileira, onde o tema da pornografia infantil tornou-se essencial nos processos legislativos e nos debates que também afetam a privacidade e a liberdade de expressão dos usuários da Internet.


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