O livro “Família e Religião” (Ed. Contra Capa), lançado no dia 28 de março, reúne artigos apresentados no Seminário “Relações Familiares, Sexualidade e Religião”, realizado em agosto de 2004, numa iniciativa conjunta do CLAM, do Grupo de Estudos sobre a Família Contemporânea (GREFAC/PPCIS/UERJ, IMS/UERJ, FSS/UFRJ) e do Projeto Família, Reprodução e Ethos Religiosos no Brasil (Museu Nacional/UFRJ). Segundo um de seus organizadores, o antropólogo Luiz Fernando Dias Duarte (Museu Nacional/UFRJ), a novidade da obra, “é a apresentação de dados etnográficos, sociológicos e a construção de hipóteses analíticas sobre o modo pelo qual a experiência familiar é atravessada pela condição religiosa e como as alternativas religiosas lidam com os nódulos comportamentais críticos da vida familiar (virgindade, orientação sexual, casamento, contracepção, aborto, reprodução assistida)”.
Além de Luiz Fernando, a coletânea é organizada pelas antropólogas Maria Luiza Heilborn (CLAM/IMS/UERJ), Myriam Lins de Barros (ESS/UFRJ) e Clarice Peixoto (GREFAC/PPCIS/UERJ), e traz artigos de Maria das Dores Machado, Patrícia Birman, Carlos Alberto Steil, Cecília Mariz, Edlaine de Campos Gomes, Juliana de Mello Jabor, Evangelina Maria Mazur e Naara Luna, discutindo assuntos como ethos privado e modernidade, religiosidade no contexto das novas tecnologias reprodutivas e família e laços familiares em um contexto espiritualista, entre outros temas.
“A tensão institutiva da cultura ocidental moderna entre a individualidade e a relacionalidade impõe uma atenção redobrada ao modo como as duas principais estratégias de relação disponíveis em nossas sociedades (a religião e a família) se articulam, confrontam ou harmonizam nas trajetórias e projetos de vida de todos os sujeitos sociais”, afirma Luiz Fernando.
Para o antropólogo, muitos são os vetores empíricos em torno dos quais esse quadro de tensões entre religião e alguns aspectos da modernidade se desenha. Os principais são os relativos ao modo como a religião lida com a sexualidade, a conjugalidade e a reprodução.
“As religiões institucionalizadas contemporâneas são o resultado de uma longa operação dos valores ‘modernos’ no mundo ocidental. A Reforma protestante (e as religiões dela decorrentes) foi um fenômeno claramente modernizante (no sentido de valorizar a autonomia individual em face das instituições religiosas), embora tenha operado em direções muito diferentes desde o século XVI. Como ressalto em um de meus textos da coletânea, é inevitável incluirmos no horizonte das religiosidades contemporâneas os próprios valores modernos, por mais paradoxal que isso pareça. Afinal de contas, trata-se de valores englobantes, tão exigentes em termos de adesão, pertencimento e ética quanto os de quaisquer religiões institucionalizadas. Isso permite compreender melhor a dialética contínua entre os valores individualizantes e os valores relacionais implicados na vida congregacional”, observa.