CLAM – Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos

Os mais velhos e as novas tecnologias

A pesquisadora Clarice Peixoto, professora de Antropologia do Departamento de Ciências Sociais do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UERJ, apresentará o tema “Envelhecimento e novas tecnologias: o caso francês” no Seminário Relações Familiares, Sexualidade e Religião, que será promovido pelo CLAM, GREFAC (UERJ) e Museu Nacional (UFRJ). Sua palestra é o resultado da pesquisa de pós-doutorado realizada em 1999, no município de Verrières-le-Buisson, ao sul de Paris e com 15, 5% da população composta por pessoas de mais de 60 anos. A pesquisa foi realizada com a antropóloga Françoise Clavairolle e pretendia analisar como as pessoas com mais idade se comportam face às tecnologias.



Para as pesquisadoras, compreender “as interações entre os usuários de idade avançada e os produtos técnicos é explicar um conjunto de práticas e de mediações nas quais a família desempenha um papel fundamental. Assim, analisar a maneira como as pessoas envelhecidas utilizam (ou são levadas a utilizar) as tecnologias da vida cotidiana é refletir sobre a contribuição das tecnologias aos processos de construções identitárias”, observa Clarice, que junto com Françoise, analisou três campos de atuação: as políticas e serviços sociais para a velhice ligados às novas tecnologias, os usos e representações das pessoas de idade sobre os objetos técnicos e o lugar da pessoa envelhecida na oferta técnica.



A pesquisa revela que as pessoas de mais idade só adquirem objetos ligados às novas tecnologias que consideram necessários. “Nem sempre é uma questão financeira. Muitos não têm celular pois não vêem necessidade em possuir um. Outros não compram um aparelho de DVD porque acham que o videocassete supre as necessidades em assistir filmes”, ressalta a pesquisadora. O que as antropólogas descobriram é que os avós ou bisavós franceses adquirem vários desses objetos como uma forma de criar um elo, uma comunicação com as gerações mais novas, em geral os netos.



Seu projeto foi um dos escolhidos pelo Ministério do Emprego e da Solidariedade Francês (MIRE) e pela Caixa Nacional de Seguros da Velhice (CNAV), que haviam lançado um concurso de pesquisas sobre Envelhecimento e Novas Tecnologias. Os resultados dessa pesquisa serão apresentados no livro “Envelhecimento, políticas públicas e novas tecnologias” a ser lançado durante o seminário.



Há um mês, Clarice Peixoto iniciou a mesma pesquisa no Brasil, adaptando-a às características locais. “A grande diferença entre o Brasil e a França está nas políticas públicas da velhice, aqui inexistentes”, conclui.