Até que ponto a religião influencia o comportamento sexual dos jovens? Este foi o ponto de partida para a antropóloga Fabíola Rohden realizar a pesquisa “Juventude, religião e o contexto da iniciação sexual e reprodutiva”, que também será tema do Seminário Relações Familiares, Religião e Sexualidade. “Trata-se de um grande desafio inter-relacionar religião, sexualidade e juventude, principalmente no contexto brasileiro. As dificuldades se referem tanto ao cruzamento dos três campos quanto às características inerentes ao que cada um desses domínios representa na modernidade”, diz Fabíola, pesquisadora do Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM).
Estudos recentes demonstram uma queda no número de jovens católicos e um significativo aumento no número de evangélicos ou dos que se declaram sem religião. “Quando um jovem diz não ter religião não quer dizer que ele não acredite em Deus. O que existe na verdade é um rompimento com a instituição, e não jovens ateus”, esclarece a pesquisadora, e adianta que “esses jovens, embora tenham rompido com a “instituição igreja”, não romperam com os valores morais. Não ter religião não significa liberalidade”.
Em relação à sexualidade, entre os que diziam ter alguma religião, a antropóloga optou por analisar principalmente o comportamento dos jovens evangélicos, particularmente os pentecostais. “Existem diferenças comportamentais dependendo da religião. Constatamos que os jovens kardecistas têm valores mais modernos, igualitários. Defendem e assumem o uso de preservativos, por exemplo. Só que esse jovem normalmente vem de uma família de nível sócio-econômico mais alto. Por isso, como você pode dizer que o que está influenciando seu comportamento sexual seja a religião, e não o seu nível social?”, questiona. Segundo ela, os jovens pentecostais tendem a ter um comportamento mais conservador no que diz respeito ao tema. ”Para os jovens da Assembléia de Deus, por exemplo, virgindade é um valor importante”, revela ela. Mas existem diferenças até mesmo dentro do pentecostalismo. “A Igreja Universal é um pouco mais liberal que a Assembléia”.
A pesquisa de Fabíola é parte do Projeto GRAVAD (Gravidez na adolescência: estudo multicêntrico sobre jovens, sexualidade e reprodução no Brasil), uma investigação de caráter sócio-antropológico realizada por três universidades públicas – UERJ, UFBA e UFRGS. Foram entrevistados jovens entre 18 e 24 anos das cidades do Rio de Janeiro, Salvador e Porto Alegre.