No dia 21 de novembro passado, o sociólogo sueco Göran Therborn ministrou, na UERJ, a conferência “O lugar do trabalho nas relações de poder entre os sexos”. A comunicação foi promovida pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPCIS/UERJ) e sucedida do lançamento do livro “Novas Conciliações e Antigas Tensões? Gênero, família e trabalho em perspectiva comparada”, organizado por Clara Araújo, Felícia Picanço e Celi Scalon. O autor de “Sexo e Poder” falou sobre as implicações do trabalho nas relações de gênero e familiares.
Para o sociólogo, “a industrialização constituiu formas mais leves de patriarcado. Nesta perspectiva, o trabalho torna-se um poderoso instrumento de mudanças no âmbito familiar. Mas é preciso diferenciar o trabalho remunerado do não remunerado, sendo este último significado de maior dependência e desigualdade”.
Therborn fez ainda considerações sobre em que medida o trabalho remunerado, de fato, aumenta a autonomia entre os sexos. Apontou para a dificuldade de inserção das mulheres no mundo do trabalho, majoritariamente masculino. A exclusão das mulheres de postos melhor remunerados, o assédio moral e a discriminação foram citados como fatores de desigualdade. Ele lembrou que, na maioria dos casos, as condições de trabalho para as mulheres são piores do que para os homens, que o trabalho doméstico, o qual congrega o maior contingente de mulheres empregadas, é mal remunerado, permitindo pouca autonomia às mesmas. As mulheres ainda fazem uma dupla jornada de trabalho, principalmente em países mais patriarcais, onde o serviço doméstico é exclusividade feminina.
O pesquisador mencionou que na América Latina, inclusive no Brasil, encontra-se o maior índice de diferença entre inserção de homens e mulheres no mercado de trabalho. A responsabilidade disto é do reconhecido machismo latino ou, em outras palavras, do grau de patriarcalismo dos países da América Latina. Para o sociólogo, é nesse contexto em que fica mais evidente a tensão ainda existente entre o exercício do trabalho remunerado e a assistência aos filhos. Ou seja, o trabalho remunerado, mais valorizado e espaço preferencialmente masculino, é colocado em posição oposta ao serviço doméstico, dificultando o cumprimento das obrigações familiares.
“Vale ressaltar que o trabalho leva à maior autonomia entre os sexos e diminui as diferenças, mas não gera a igualdade. Se seu impacto é importante para mudanças nos sistemas familiares, por outro lado o poder masculino não é afetado por isso. A violência contra a mulher continua atingindo níveis altos de incidência, por exemplo”, observou o sociólogo.
A educação também é um fator importante, na opinião do sociólogo. Goran lembrou que hoje o número de mulheres no ensino superior é maior do que o de homens, mas que, mesmo assim, o impacto da educação depende da classe social do sujeito. “Em uma sociedade de poder masculino, isso significa uma desvalorização da educação, com baixos salários mesmo para profissionais qualificados, como na América Latina”, ressaltou.
A diferenciação salarial entre os sexos no mundo do trabalho também foi considerada. Mesmo em países mais desenvolvidos, como a Islândia, as mulheres ganham, em média, um quarto do salário masculino.
Göran Therborn afirmou ainda que igualdade salarial é necessária, mas que não basta para promover a eqüidade. Um exemplo de igualdade crescente é a importância cada vez maior do papel masculino na criação dos filhos, conclui o sociólogo.
No dia 06 de Janeiro de 2008, Goran Therborn, em entrevista para Jornal Estado de São Paulo, falou mais sobre as relações familiares e entre os sexos a partir das declarações do Papa Bento XVI. Clique aqui e leia a entrevista completa.