Fruto de uma pesquisa conduzida recentemente pelo International Social Survey Program, que realiza pesquisas de survey em cerca de 30 países sobre temas sociológicos relevantes, o Seminário Internacional Gênero, Trabalho e Família em Perspectiva Comparada vai tratar de temas relacionados aos arranjos familiares e à dinâmica que homens e mulheres estabelecem entre o cotidiano da vida domestica e o trabalho pago. Serão apresentados os resultados desta e outras pesquisas internacionais que vêm investigando o tema. “O que será mais debatido será como está a divisão do trabalho doméstico hoje no mundo e como isto afeta a posição das mulheres”, observa cientista social Clara Araújo, do Programa de Pós-graduação de Ciências Sociais (PPCIS) da Uerj, uma das organizadoras do evento, que acontecerá entre os dias 31 de março e 1 de abril na Uerj.
A pesquisa foi realizada em 2003 no Brasil e nos mais de 20 países participantes. Os objetivo era tentar compreender quais os impactos atuais do trabalho pago das mulheres sobre a dinâmica familiar e a divisão do trabalho doméstico e quais as tendências que se esboçam nessa conciliação em termos comparativos internacionais. “Comparamos o Brasil com o México, Chile, Portugal, Espanha, Suécia, Estados Unidos e Polônia”, lembra Clara. O estudo mostra dados interessantes, como por exemplo, a média de horas dispensadas no trabalho doméstico: no Brasil, os homens que trabalham dedicam, em média, 10,6 horas por semana ao trabalho domestico, enquanto as mulheres, mesmo trabalhando fora, dedicam 26,9.
“Comparando-se esses países, as mulheres se mostram bem mais cansadas na conciliação entre trabalho domestico e não domestico. Em geral, apontam maior estresse nesta atividade, tendem a valorizar menos o casamento do que os homens . Os países latinos apresentam condições bem mais adversas, indicando maior solidez do modelo tradicional de homem provedor e mulher cuidadora”, revela a pesquisadora, que coordenou o estudo no Brasil ao lado da socióloga Celi Scalon, do Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro (IUPERJ).
Segundo ela, a pesquisa é importante porque o trabalho permite discernir o cenário geral das relações de gênero nessa dinâmica. “No caso do nosso país, foi a primeira pesquisa realizada com essas características e num marco comparativo internacional”, diz ela, adiantando que os resultados sairão em livro brevemente.
Outros assuntos que serão debatidos: Percepções sobre a conciliação entre o trabalho pago e a maternidade; percepções sobre conjugalidade e afeto; características das práticas familiares e da divisão sexual do trabalho doméstico e satisfação e individualidade com a vida pessoal e conjugal. O evento aconteceré no Auditório 11 da Uerj, 1º andar do campus Maracanã.