Há cinco anos, o CLAM lançava o desafio – relativamente inovador para uma instituição acadêmica – de intervir em vários níveis em relação ao lugar público da sexualidade nas sociedades latino-americanas contemporâneas. Em um nível, a proposta era reconhecer criticamente processos comuns e trânsitos entre diferentes agendas e perspectivas: principalmente aquelas classificadas como acadêmica, ativista e políticas públicas. Outro trânsito acompanhado é o que temos desenvolvido entre as temáticas de gênero, saúde e direitos. O terceiro tipo de conexão explorado foi entre pessoas (estudantes, pesquisadores, ativistas, políticos e profissionais de diversas áreas), dando amplitude a esta busca através da composição de uma rede. Em torno de três linhas temáticas – direitos e políticas; cultura e comportamento, saberes – o CLAM tem organizado pesquisas, atividades de formação e de disseminação com o objetivo de fomentar o debate sobre gênero, sexualidade, saúde e direitos como questões políticas.
Mesmo que o horizonte de trabalho do CLAM tenha sido regional desde seu início, com atividades na Argentina, no Brasil, no Chile, na Colômbia e no Peru, foi recentemente, a partir de 2005, que as ações desenvolvidas em cada país passaram a estar articuladas entre si. Nesse ano, foram montadas equipes de pesquisa, de comunicação e de formação, coordenadas a partir do Centro e compostas por profissionais de instituições colaboradoras de cada país. À medida em que as diferentes atividades foram se consolidando, a rede de colaboradores foi ampliada, tanto dentro de cada país como para além da configuração inicial, incorporando também ao México. Foi assim que , em conjunto, temos realizado pesquisas de campo, montado base de dados e diagnósticos, organizado seminários temáticos, oficinas de pesquisa e cursos de formação, produzido concept papers, difundindo toda esta atividade e acompanhado os rumos deste campo em expansão através do website, newsletter e projetos editoriais.
Depois de cinco anos de intenso trabalho, diálogos e de compromissos, é hora de se fazer um balanço. No momento em que, para orientar os próximos passos do CLAM, avaliamos os alcances de nosso aporte, faz-se necessário sentir o pulso deste campo em construção. Para refletir sobre ele, temos convocado este seminário, que será de celebração dos logros, mas servirá também para atualizar os desafios. Convidamos colegas cujas trajetórias e aportes têm sido chave para pensar a sexualidade como campo de conhecimento e intervenção, para elaborar acerca do que tem se passado durante esses anos, tanto a partir da emergência do conceito de “direitos sexuais”, como da de renovados “pânicos morais”.
Como assinalam vários autores, esses direitos estão distantes de serem consagrados como um corpus de normas positivas, assim como o amplo leque de questões denominadas “sexuais” não são necessariamente agrupadas por analogia. Alguns dos temas abordados são, por exemplo, ativismo sexual e reforma jurídica; sexualidade e medicalização; a trajetória das ciências sociais com relação à sexualidade; a sexualidade como questão de saúde e como questão política; a sexualidade como questão pública; sexualidade, direitos sexuais e formação de subjetividades; religião e laicidade; trabalho e comércio sexual; erotismo e política; educação, gênero e diversidade sexual; educação sexual, autonomia e medicalização; religião e família.
Como se faz evidente, a pergunta acerca dos rumos deste campo em formação admite uma saudável dispersão, fundamental para uma compreensão mais acabada da complexidade do fenômeno. Daí a proposta de estender o âmbito da reflexão a outros aspectos constitutivos do mesmo, como são as convicções e disputas morais em torno da sexualidade, ou a relação das regulações da sexualidade com o panorama de forte desigualdade social que caracteriza as sociedades latino-americanas.
O seminário Sexualidade: Saúde, Direitos e Moralidades nos convoca a debater e refletir coletivamente sobre os rumos de um campo em construção.