CLAM – Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos

Natureza, gênero, ciência e moral nos discursos sobre maternidade e amamentação

A amamentação ocupa, historicamente, lugar central no processo de construção do “amor materno” como um sentimento inato e universal, constituindo o ideal de “boa mãe” (BADINTER, 1985). Embora a entendamos aqui como uma técnica corporal aprendida através da socialização (MAUSS, 2003), ela é com frequência, no senso comum, vista como prova máxima da natureza instintiva feminina. Por isso mesmo, a amamentação proporciona uma lente capaz de ampliar as “rachaduras” e “fraturas” das construções em torno do papel de mãe na atualidade (BLUM, 1993). Devido aos reconhecidos benefícios à saúde, atualmente a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde (MS) recomendam dois anos ou mais de aleitamento materno, sendo os primeiros seis meses exclusivos (isto é, sem que o bebê consuma outros alimentos). Porém, dados de 2016 da OMS indicam que, no Brasil, apenas 39% dos bebês são amamentados exclusivamente nos primeiros seis meses, e apenas 48% seguem mamando até um ano de idade. Assim, pretendemos, nesta pesquisa, investigar como as recomendações e o discurso oficial da OMS e MS são recuperados por grupos de mães de camadas médias urbanas que se reúnem, sobretudo na internet (através de blogs, sites e grupos em redes sociais), em torno do chamado “parto humanizado” e do apoio à amamentação, preconizando formas “mais naturais” de se criar os filhos. Nosso objetivo será refletir acerca da articulação entre ciência e moral a respeito do corpo feminino e da maternidade. Assim, pretendemos investigar grupos de trocas de informações e apoio, entre mães, a respeito da amamentação, bem como formas de ativismo ligados ao tema. Procuraremos analisar concepções em torno de gênero, maternidade, natureza e cultura, e o uso que é feito da ciência a partir da valorização de informações baseadas em “evidências científicas”. Investigaremos também o movimento de “profissionalização do ativismo” e “mercantilização do cuidado” em torno da amamentação, que parece surgir com a atuação da nova figura de “consultora em amamentação”.
Situação: Em andamento; Natureza: Pesquisa.
Integrantes: Marina Fisher Nucci – Coordenador.

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