Um debate sobre gênero, sexualidade, raça e etnia entre pesquisadores e ativistas sociais, com a participação de representantes do poder público, deu início ao Curso de Formação de Docentes on-line, última etapa do processo seletivo dos professores que irão atuar no curso a distância “Gênero e Diversidade na Escola”, que está sendo realizado esta semana pelo Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM), no Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Ao iniciar o curso com um debate, a idéia era discutir de que modo os movimentos sociais estão lidando com esses temas e a importância de abordá-los no ambiente escolar.
Integravam a mesa do primeiro dia representantes dos movimentos feminista, negro e GLBT: a socióloga Jacqueline Pitanguy, diretora da CEPIA (Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação) os educadores João Batista Felix (Universidade de São Paulo) e Beto de Jesus, secretário para a América Latina e Caribe da Associação Internacional de Gays e Lésbicas (ILGA).
“Primeiramente temos que questionar o que é aquilo que chamamos de democracia racial brasileira”, provocou João Batista Félix. “É importante pensar o quanto nossa sociedade é heteronormativa. É grande a quantidade de professores e educadores que se silenciam frente a preconceitos. Então, o que nos cabe enquanto educadores? Estamos exercendo nossa cidadania como professores?”, questionou Beto de Jesus.
A idéia de transversalidade proposta pelo curso foi elogiada pela feminista Jaqueline Pitanguy. “A agenda dos movimentos sociais, tanto o de mulheres, como do movimentos negro ou dos movimentos pelos direitos de orientação sexual não é homogênea. A proposta de articular os temas e agendas desses movimentos e aplicá-la com educadores como forma de sensibilizá-los para lidar com a diversidade é inédita e digna de nota”, disse ela.
Objetivo da capacitação é familiarizar os profissionais com os temas
O público presente era composto pelos 50 candidatos a professores on-line, selecionados na primeira fase, em sua maioria vindos da área de Ciências Sociais, Psicologia, Educação e Filosofia. O atual curso de capacitação definirá, entre os 50, os 36 profissionais que atuarão como professores on-line no curso “Gênero e Diversidade na Escola” entre maio e julho de 2006. Durante esta semana, os conteúdos e a metodologia do curso serão apresentados aos candidatos, visando capacitá-los conceitualmente e quanto à metodologia de ensino à distância.
O treinamento está dividido em quatro módulos: o primeiro deles apresenta o tema da Diversidade, no qual serão estudados temáticas como a da diversidade cultural, etnocentrismo, estereótipo e preconceito, biologização das desigualdades e o ambiente escolar face aos temas tratados.
O segundo módulo trata do conceito de gênero e suas implicações nas relações sociais, de sua articulação com a questão dos direitos humanos e da importância da sensibilização de educadores para lidar com as questões de gênero no cotidiano escolar.
O terceiro módulo aborda o tema da Sexualidade, sob uma perspectiva histórico-cultural, debatendo questões como orientação sexual, reprodução e educação sexual na escola.
As Relações Étnicos-Raciais são o tema do último módulo, onde serão enfocadas as noções de raça, racismo e etnicidade, e desigualdade social.
Como o curso “Gênero e Diversidade na Escola” será oferecido na modalidade de ensino à distância pela Internet por meio do e-Proinfo, ambiente virtual de aprendizagem do MEC, será também oferecido treinamento desta ferramenta para que os futuros professores possam ter acesso e familiaridade com o e-Proinfo.
Segundo a coordenadora do curso, antropóloga Fabíola Rohden, a seleção dos 36 professores deve ocorrer até o final de abril. “O resultado esperado, no entanto, é a construção da rede que faremos aqui, já que cada um de nós está tendo a oportunidade de encontrar pessoas que trabalham com temas afins”, afirma ela.
O projeto é resultado da parceria entre a Secretaria Especial de Políticas para Mulheres (SPM), a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD/MEC), a Secretaria de Educação a Distância (SEED-MEC), a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), o Conselho Britânico e o Centro Latino-Americano em Sexualidade e Diretos Humanos (CLAM/IMS/UERJ).