Com imenso pesar, o Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos(CLAM/IMS/Uerj) se junta às outras vozes e organizações atuantes no campo dos direitos sexuais e reprodutivos e lamenta as mortes das militantes feministas brasileiras Lurdinha Rodrigues, Rosângela Rigo e Célia Maria Escanfella, vítimas de um acidente de carro ocorrido no início da tarde do dia 14 de fevereiro, no interior da Bahia.
Ativista lesbica e feminista de longa trajetória, Lurdinha atuou na Liga Brasileira de Lésbicas e no Conselho Nacional de Saúde. Ao passar a integrar a equipe da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM), como Coordenadora-Geral da Diversidade, foi importante interlocutora do CLAM na SPM para a execução da atual edição do curso Especialização em Gênero e Sexualidade (Eges), projeto de EAD realizado por nosso Centro com apoio da SPM desde 2010.
Neste momento de profunda dor, manifestamos nossas condolências aos familiares e amigos de Lurdinha, Rosângela e Célia.
Reproduzimos abaixo a nota de pesar da ministra Eleonora Menicucci
"Foi com extrema tristeza que recebi a notícia na madrugada de hoje (15) do falecimento, em um trágico acidente de carro, no interior da Bahia, de três mulheres que viajavam para o carnaval, sendo que duas delas integravam nossa equipe da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM/PR): a Secretária de Articulação Institucional e Ações Temáticas (SAIAT), Rosangela Rigo, e a Coordenadora-Geral da Diversidade, Lurdinha Rodrigues. Duas feministas históricas, elas farão muita falta na luta pelo combate à discriminação de gênero e na construção de políticas públicas pelos direitos das mulheres.
Acima de tudo perdemos duas grandes amigas e companheiras de militância feminista. Ambas deixam um legado excepcional de coragem, determinação e alegria para a transformação dos sonhos e utopias na luta pelo avanço das conquistas dos direitos das mulheres.
Rosangela Rigo esteve à frente da Secretaria de Enfrentamento a Violência como Secretária Adjunta e havia assumido no início deste ano a Secretaria de Articulação Institucional de Ações Temáticas da SPM/PR. Foi titular da Coordenadoria da Mulher na prefeitura de Campinas e Secretária da Mulher na prefeitura de Suzano, ambos em São Paulo; Secretária Estadual de Mulheres do PT de SP e integrou o Coletivo Nacional de Mulheres do PT. Rosangela também participou do grupo feminista GTPOS/SP (Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual).
Lurdinha Rodrigues, desde o início de minha gestão na SPM/PR, quando criei esta estrutura, foi coordenadora da Diversidade. Militante ativa feminista, desde jovem lutou contra a ditadura militar e pelas liberdades democráticas no nosso país e foi uma grande defensora dos direitos humanos, principalmente da população LGBT.
Toda minha solidariedade às famílias neste momento de dor. Não mediremos esforços para dar todo o apoio necessário.
Eleonora Menicucci
Ministra de Estado Chefe da Secretaria de Políticas para as Mulheres”
Leia a seguir a nota de pesar do Observatório da Mulher
A família de Rosângela Rigo e de Lurdinha Rodrigues somos nós. Não que lhes faltasse família biológica, amorosa e presente. Mas é que criamos laços tão fortes, que nos sentimos, todas, uma só e grande família. Uma família de guerreiras. Batalhando num mesmo front, ou em fronts diversos Que os abririam o caminho, Rumo a um mundo mais justo, igualitário, sem exclusões ou preconceitos. Um mundo mais íntegro, de pares, de iguais – embora distintas, e ímpares – e cada qual focando um ângulo de nossa diversidade . Diversidade, pluralidade, equidade – como gostamos de recitar. Distintas, específicas, diversas, mas focando a superação das diversas injustiças Para nos levar mais perto de um mundo justo, de pessoas Iguais nos direitos, iguais nas oportunidades, iguais no respeito e na qualidade de vida. Rosângela e Lurdinha fizeram conosco uma boa parte do caminho. Abriram brechas, nos multiplicando os caminhos de acesso Derrubaram cercas de preconceito Ensinaram novos conceitos Sonharam conosco uma nova realidade. Agora se foram. Junto com a Célia Maria, uma outra amiga batalhadora. Foram se juntar a uma miríade de estrelas que nos ombrearam na abertura do caminho E que agora nos iluminam o caminho nas noites escuras. Foram se juntar à Cida Kopcack, à Miriam Botassi, à Beth Lobo, à Regina Stella, à Heleieth Saffioti, à Rose Marie Muraro e tantas mais que se foram, nos deixando o seu legado. A nossas amigas e companheiras Rosângela Rigo e Lurdinha Rodrigues, o nosso muito obrigadas, pelo tanto que fizeram, pelo tanto que nos mostraram, pelo tanto de legado que nos deixam. Sabemos agora que, “sem socialismo não há feminismo” mas que também “sem feminismo, não há socialismo”, como gostava de reafirmar Rosângela Rigo. E sabemos também que as mulheres têm que ser igualmente respeitadas em toda a sua diversidade, e que têm direito a todas as opções e orientações. Companheira Rosângela Rigo – Rô – você está presente, hoje e sempre! Companheira Lurdinha – você está presente, hoje e sempre! Companheira Célia Maria – presente!
Observatório da Mulher:
Beth Feijó/ Cleide Alves dos Santos/ Eliane Kalmus/ Haidi Jarschel/ Joana Duarte/ Maria José Alves/ Mana (Maria Stella)/ Maristela Bizarro/ Miriam Leirias/ Rachel Moreno/ Sonia Alves Calió/ Tereza Verardo
Veja abaixo a nota de pesar da Liga Brasileira de Lésbicas
A Liga Brasileira de Lésbicas, de Norte a Sul, está de luto pelo falecimento brutal de Maria de Lourdes Rodrigues – a nossa “Lurdinha Rodrigues”, que juntamente com as militantes Rosângela Rigo e Celinha perderam suas vidas neste sábado vítimas de acidente fatal em estrada do interior da Bahia.
Em 2003, em Porto Alegre, durante o Fórum Social Mundial, mulheres lésbicas e bissexuais, feministas e revolucionárias, se juntaram para construir a Liga Brasileira de Lésbicas. Lurdinha era uma dessas mulheres. Ela acreditava que outro mundo é possível. E já vinha de uma trajetória política marcada por grandes, importantes e inestimáveis contribuições políticas para diversas lutas. A LBL se fortaleceu com sua presença em inúmeros espaços e corações de companheiras que conviveram com ela; enfrentando debates políticos, lutas sociais e até mesmo em amizades e amores lesbianos compartilhados. Uma pessoa polêmica, uma pessoa inesquecível, uma liderança marcante, uma mulher de jeito cearense e sedutor. Uma militante/ativista proativa e determinada, que não mediu esforços, inclusive financeiros, pra levar adiante nossas questões, pautando-as com a garra de uma feminista e a sensibilidade de uma socióloga, amante, guerreira.
Lurdinha encontrava-se afastada da LBL, da qual era articuladora nacional. Estava exercendo cargo de Coordenadora Geral da Diversidade Sexual na Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) da Presidência da República. Militante desde a juventude no Movimento sindical, quando trabalhava na Indústria têxtil. Dedicou-se às causas dos Direitos Humanos, ao Feminismo e ao Movimento Lésbico. Atuou no Conselho Nacional de Saúde e lutou pela Democratização da Mídia. Mas foi no movimento lésbico-feminista que Lurdinha, sem deixar de lado suas contradições, melhor expressou sua ousadia.
Lurdinha, companheira, os sonhos que sonhamos juntas não serão em vão! Nossa luta continua e sempre valerá a pena, ontem, hoje e amanhã. A Liga Brasileira de Lésbicas lamenta seu falecimento expressa seu pesar à família de Lurdinha, Rosangela e Celinha.
São Paulo, 16 de fevereiro de 2015.