O trabalho de pesquisa ocorreu de 1999 a 2006, e foi empreendido por uma equipe composta por profissionais do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, IMS/UERJ; do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, MUSA/ISC/UFBA; e do Núcleo de Pesquisa em Antropologia do Corpo e da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, NUPACS/UFRS e do Institut d’Etudes Démographiques, INED, França. Seu desenvolvimento contou com apoio da Fundação Ford, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior–CAPES.
A primeira fase da pesquisa (1999-2000) consistiu na realização de 123 entrevistas qualitativas, que permitiram o delineamento do quadro de perguntas que integraram o questionário para a segunda fase da investigação bem como amplo material que serviu de base a diferentes teses de doutoramento e dissertações de mestrado,tal como pode se observar na lista de publicações relativas à Pesquisa Gravad.
De outubro de 2001 a janeiro de 2002 foi realizada a aplicação do questionário em diferentes segmentos socioeconômicos do Rio de Janeiro, Salvador e Porto Alegre, cidades localizadas em distintas regiões geográficas do país. Esta fase de pesquisadomiciliar abrangeu 4.634 indivíduos de ambos os sexos, cujas idades variavam entre 18 e 24 anos. Tal recorte etário foi estratégico, no sentido de permitir que fossem avaliadas pelos entrevistados as conseqüências de eventuais episódios de gravidez e parentalidade, ocorridas na adolescência.
A terceira fase da pesquisa foi dedicada à análise dos dados coletados, processo que resultou na publicação, em 2006, do livro O aprendizado da sexualidade. Reprodução e trajetórias sociais de jovens brasileiros., organizado por Heilborn, M.L., Aquino, E.M.L., Bozon, M. e D. R. Knauth (Garamond/ Fiocruz). Outros trabalhos derivaram desta pesquisa, e foram produzidos tanto durante o processo de análise dos dados como posteriormente.
A pesquisa GRAVAD versou sobre os seguintes tópicos: história familiar e socialização para a sexualidade, primeiro namoro, as experiências de ficar, iniciação sexual, relacionamentos afetivos e suas rupturas, moralidade sexual, práticas e repertório sexuais com parceiro do sexo oposto ou do mesmo sexo, ocorrência ou não de gravidez e/ou aborto, e vivência da maternidade e paternidade.
O ângulo adotado no trabalho foi o que focaliza o desenrolar de eventos e processos vividos pelos jovens, no que concerne à sexualidade e aos vínculos afetivos. A ocorrência ou não de gravidez foi contextualizada em relação a tais eventos e processos, conforme declaração dos jovens entrevistados. O objetivo da pesquisa foi, portanto, compreender a gravidez na adolescência no âmbito dos processos individuais e sociais que lhe são correlatos. Assim, a pesquisa teve como pressupostos teóricos, o entendimento de que a ocorrência da gravidez na adolescência deve ser compreendida de maneira subordinada a um quadro mais amplo, que compreende as mudanças na sexualidade juvenil, as relações de gênero a elas inerentes e as relações inter-geracionais; além da visão de que a sexualidade constitui um domínio cujos conteúdos e regulação se transformam historicamente, e no qual os sujeitos são paulatinamente socializados.