CLAM – Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos

Entre 6 de maio e 3 de junho de 2024, no Instituto de Psicologia, o Professor Mario Pecheny, titular da cadeira de Sociologia da Saúde na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires, ministrará a disciplina eletiva “Direitos humanos e Ciências sociais e humanas como espaços de resistência”. O cientista político argentino é investigador principal do CONICET, com extensa carreira em temáticas de direitos humanos e sexualidade. Pecheny vem ao Brasil como professor visitante pelo programa CAPES/PRINT, a convite da Professora Anna Uziel, diretora do Instituto de Psicologia da UERJ, quem além de integrar o CLAM/IMS, é fundadora do Gepsid – Grupo de Estudos e Pesquisas Subjetividades e Instituições em Dobras. O curso será realizado em parceria entre as pós-graduações em Psicologia Social e em Saúde Coletiva da UERJ e contará com a colaboração do Professor Horacio Sívori (CLAM/IMS/UERJ).

             Mario Pecheny é doutor em Ciência Política pela Universidade de Paris III. É Professor Titular de Sociologia da Saúde/Política de Saúde e de Ciência Política na Universidade de Buenos Aires. Pecheny é pesquisador Principal e representante das Ciências Sociais e Humanas no Conselho Diretor do CONICET, no Instituto de Pesquisas Gino Germani. Foi pesquisador ou professor visitante nas universidades de Columbia, Michigan, Paris III, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Universidade Federal de Santa Catarina, entre outras.

            Às vésperas da sua chegada ao IMS, a equipe de comunicação do CLAM conversou com Mario Pecheny, para saber um pouco mais sobre a disciplina que será ofertada por ele. Aproveitamos para perguntar também sobre sua participação no seminário em comemoração aos vinte anos do CLAM, que ocorrerá nos dias 06 e 07 de junho de 2024, no auditório do IMS/ UERJ, na sala 6012, Bloco E, 6º andar, rua Francisco Xavier, nº 529, Maracanã, Rio de Janeiro, RJ.

COMUNICAÇÃO CLAM:

Mario Pecheny, estamos muito felizes com sua vinda ao IMS e com boas expectativas em relação à disciplina que você irá ministrar. Pelo programa do curso vimos que serão abordados temas como neoliberalismo, conservadorismo e emergência das novas direitas na América Latina. Você poderia nos falar um pouco mais sobre essas questões e como sua disciplina irá se articular em torno desses temas?

MARIO PECHENY:

A questão do conservadorismo, do neoliberalismo e do retorno das forças reacionárias ou a erupção de forças reacionárias nos governos da América Latina e outras regiões do mundo é um tema que tem sido tratado já por muitos outros intelectuais ou muitos textos e a minha estratégia é pensar isso a partir da reflexão de como as ciências sociais e humanas são, ao mesmo tempo, objeto ou alvo de ataques dessas forças e tentar encontrar, na epistemologia das ciências sociais e a partir de uma genealogia histórica, como esse fenômeno, que é de longa data, se inscreve também em ataques a disciplinas que são válidas em si mesmas, que não são válidas somente ou principalmente porque são úteis para outras coisas; isso seria uma lógica instrumental. Da mesma forma, a ideia de que as ciências sociais e humanas são espaços de resistências, é outra das chaves do curso, não pensando em como podemos tentar reinscrever e politizar essas narrativas individuais, de danos, sofrimento e luta em que estamos embarcadas e embarcados, à luz das ferramentas que trazem as ciências sociais e humanas. E toda esta relação com a ideia de direitos humanos e de politização colectiva, esta tradição latino-americana em que se situa o Clam, esta perspectiva em que nos identificamos, muitas e muitos de nós.

COMUNICAÇÃO CLAM:

Recentemente, no Brasil, passamos pelo governo Bolsonaro, que representou inúmeros retrocessos para as lutas das mulheres e das minorias sexuais. Neste momento, é a Argentina que está passando pelo governo do Milei, que também é conservador e representa ameaças para as lutas feministas e das minorias sexuais. Gostaríamos que você refletisse um pouco sobre estes contextos políticos, de emergência recente dessas direitas ultra conservadoras na América Latina.

MARIO PECHENY:

Bom, vocês são, o Brasil, é um país que figura como espelho retrovisor de gêneros e dos nossos movimentos; como fazem para implantar-se e como são os exercícios do poder e o impacto que têm nas comunidades, nas leis, no humor social. Nós estamos, talvez inesperadamente, debutando nisso com muitas surpresas e muito padecimento subjetivo. É muito mal estar, muito incômodo, tanto pela ação do governo e seus apoiadores, como pela ainda ineficaz, ou tímida, ou silenciosa, ou não resposta por parte das outras forças políticas e das forças democráticas. Ademais, retrospectivamente também, implica avaliar criticamente o papel destes estados, que talvez somente possamos chamar de bem-estar, e o estado de direito, que precedeu, evidentemente, para ampliar o bem-estar da população. Mas, não era tal o bem-estar, e também não era valorizado, ou não chegava a algumas camadas de população, do estado de direito. Por último, eu quis incorporar a noção de geração. Acho que além das de classe e gênero, e as outras que temos tratado sempre, estas novas gerações, pelo menos no caso da Argentina, expressam sua rebeldia em relação à ultra direita, e é algo que também nos convida a refletir.

COMUNICAÇÃO CLAM:

Mário Pecheny, você fará a conferência de encerramento do seminário em comemoração aos 20 anos do CLAM, intitulado “Seminário Internacional – Sexualidade e Direitos Humanos: memória da formação de um campo de estudos no Brasil e na América Latina (2002-2022)”. Você poderia adiantar um pouco para nós a respeito dos temas e perspectivas que irá abordar na sua conferência?

MARIO PECHENY:

Por fim, a palestra no seminário pode ser uma conversa; uma conversa para nos fazer pensar, se realmente, durante tantos anos, na vida democrática e no desenvolvimento acadêmico, científico, intelectual nas nossas universidades, pudemos desenvolver uma tradição de pensamento crítico relacionado com a sexualidade da política e dos direitos humanos. Pensar um pouco sobre as questões pendentes ou os pressupostos a rever, e também, como tudo isto, faz parte de uma transformação global, mundial e regional, que também torna inteligível a reação, ou seja, aquelas tentativas que não só querem manter um status quo, mas também devolver ou restaurar uma ordem que talvez nunca tenha existido, mas que, nostalgicamente ou melancolicamente, não só existe designadamente, uma ordem de gênero, uma ordem de classe, uma ordem racial, na qual os privilégios são claros e estáveis, e essa estabilidade fornece sentido a homens, que às vezes parecem preferi-la à incerteza da participação democrática.

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